sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Desvendando o Êxodo - Parte 1
O livro do Êxodo revela mistérios interessantíssimos sobre Deus e sobre seu projeto com o povo por Ele escolhido. Para iniciar, o nome original do livro é shemoth, que em hebraico significa “os nomes”, palavra que aparece na primeira frase do livro: “São estes os nomes...” (ve'êlleh shemoth). O interessante é que, em hebraico, a palavra nome também se relaciona com “reputação” e, por isso, com o “caráter”. Ou seja, este é o “Livros dos Nomes” (shemoth) e também o “Livro dos Caráteres”. Neste livro, portanto, Deus anuncia seu caráter a seu povo e exige deles que a ele se moldem, adequando-se a seu padrão de moralidade, de comportamento.
O interessante, portanto, é que além deste livro anunciar os nomes dos filhos de Israel que entraram com Jacó no Egito (Êxodo 1.1), ele também revela um nome, anteriormente anunciado a Adão e Abraão, que havia sido perdido, mas que agora é novamente revelado: o nome de Deus. Moisés disse a Deus: “Quando eu falar com os filhos de Israel sobre o Senhor, eles perguntarão: ‘Qual é o nome dele?’” (mah-shemo? - Êxodo 3.13). A resposta de Deus vai revelar uma mudança na história de Israel.
A resposta de Deus é: 'ehyeh 'asher 'ehyeh (Êxodo 3.14). Essa frase admite várias traduções. “Eu serei aquilo que eu serei”, conforme a tradução do termo 'ehyeh em Êxodo 3.12; “Eu fui aquilo que eu fui”, conforme 2 Samuel 15.34; ou “Eu sou aquilo que eu sou”, seguindo Rute 2.13. Podemos, também, traduzir: “Eu sou Aquele-que-Existe!”. Ou seja, Deus é aquele que permeia todo o tempo, é o eterno, aquele que persiste ao tempo, que sempre existiu e nunca deixará de existir.
Logo em seguida, Deus, porém, revela seu nome em sua forma mais famosa, quando diz: “Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR (Yehovah), o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nome (shemiy) eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração” (Êxodo 3.15).
Como vimos, o nome expressa o caráter. Quando Deus muda o caráter de alguém, Ele muda o nome da pessoa, como fez com Abrão (Abraão) e Jacó (Israel). O que, portanto, expressa o nome Yehovah? Este nome está relacionado com a raiz havah, que significa “respirar”, “existir”, “ter vida”. Ou seja, o Deus que está se apresentando a Moisés é aquele que Existe, aquele que pode dar o sopro de vida, e o único capaz de nos conceder a vida eterna. O curioso é que o termo havah se relaciona com hayah, que pode significar “ruína” ou “calamidade”, como em Jó 30.13. Assim vemos que o nosso Deus é o único capaz de dar a vida e o único capaz de destruí-la. Por isso, no Egito, Yehovah mostraria que Ele é o verdadeiro dono da vida e da morte, da criação e da destruição, da bênção e da maldição. Servi-lo e temê-lo é a postura mais sábia que um homem pode tomar.
sábado, 24 de setembro de 2011
Números 1.1 - Deserto: o santuário da ordem
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Como temos visto em nossos estudos, o texto bíblico, quando lido em sua língua original, apresenta novas possibilidades de significado. Textos famosos, que conhecemos muito bem, surgem com uma nova possibilidade de compreensão. Isso ocorre com Números 1.1, onde lemos:
“No segundo ano após a saída dos filhos de Israel do Egito, no primeiro dia do segundo mês, falou o SENHOR a Moisés, no deserto do Sinai, na tenda da congregação” (Almeida Revista e Atualizada).
O texto original em hebraico está escrito na seguinte ordem:
“Falou o SENHOR a Moisés, no deserto do Sinai, na tenda da congregação, no primeiro dia do segundo mês do segundo ano após a saída dos filhos de Israel do Egito”.
O início do texto hebraico, lido no original, revela mistérios interessantes. Analisaremos, portanto, o seguinte trecho: “Falou o SENHOR a Moisés, no deserto do Sinai”.
O termo “falou”, em hebraico, é derivado da palavra “dabar”, que pode significar “colocar em ordem”, pois vem de “der”, que significa “ordem”. O termo “der” é, por sua vez, relacionado a “dyr”, que significa “morar” ou “acampar”. Além disso, a palavra “dabar” está relacionada a “dabyr”, que significa “santuário” ou “lugar de ordem”. O curioso é que a palavra “dabar” (“falar”) dá origem ao termo “midbar” (“deserto” ou “lugar de colocar em ordem”).
Assim como as palavras são letras e sons colocados em ordem, as frases são formadas por palavras colocadas em ordem. Da mesma forma, a palavra e a fala são usadas para dar ordem às coisas e para estabelecer ordens, mandamentos. E o deserto, em hebraico, é o lugar do silêncio e da ordem, e foi por isso que Deus tirou seu povo do caos do Egito para santificá-los, ou seja, colocá-los em ordem no deserto.
A palavra “Senhor”, é, em hebraico, yehovah, que significa “aquele que existe”, “aquele que respira” ou “aquele que é”, pois vem de “havah”, que significa “respirar” ou “existir”. O termo yehovah está relacionado ao nome Eva (“chavvah”), que em hebraico significa “aquela que doa a vida”. Dessa maneira, o nome de Deus significa “aquele que existe” ou “aquele que vive”, por isso, todos os seres que vivem e que existem, vivem e existem porque de Deus receberam a vida.
Já o nome “Moisés”, que em hebraico é “mosheh”, significa “tirado” ou “resgatado”, pois ele foi tirado do rio Nilo. Dessa maneira, o termo “mosheh” também traz a ideia de “separado”, “eleito”. Moisés, tirado do rio Nilo, que é o símbolo da força do Egito, representa o povo de Deus, tirado do mundo perdido e trazido para perto da presença divina. Além disso, o nome Moisés também pode significar “aquele que leva para fora”, pois assim como ele foi salvo da morte no rio Nilo, ele conduziu o povo de Deus passando por dentro do mar Vermelho. Somente um que foi separado pode ajudar os demais a salvar-se.
A palavra “deserto”, como vimos, é em hebraico “midbar”, que pode significar “campo aberto”, “discurso”, “santuário”, “lugar onde se colocam as coisas em ordem”, relacionado ao termo “dabar” que significa “falar”, e com o termo “davar”, que significa “palavra”. Isso é muito curioso, pois foi no deserto que Deus falou abertamente com seu povo e lhes deu suas leis, que serviram para colocar ordem a vida daqueles que foram separados para viver em santidade. Muitas vezes, Deus precisa nos fazer passar por um deserto para que possamos escutar sua voz.
O nome “Sinai” está relacionado ao termo “sena’ah”, que pode significar “espinhoso”, “pontiagudo”, “sarça” ou “arbusto”. Também está relacionado ao termo “‘ason”, que significa “machucar” ou “causar dano”. No deserto (“midbar”), os espinhos (“seneh”) das tribulações que afligiram o povo de Deus serviram para ensinar-lhes a depender do Senhor, a viver segundo a ordem divina, e descobrir como organizar suas vidas conforme os preceitos recebidos no Sinai (“siynay”), naquele mesmo local em que Deus havia falado com Moisés através da sarça (“seneh”). Esse espinho funcionava para purificação, assim como aconteceu com o apóstolo Paulo, quando Deus colocou um espinho em sua carne para que ele não ficasse soberbo com as revelações que havia recebido (2 Coríntios 12.7).
Dessa maneira, podemos traduzir Números 1.1 da seguinte maneira:
“Aquele que existe colocou em ordem as coisas, com o homem que foi separado, no santuário onde são ordenadas as coisas por meio de espinhos”.
Quando o homem reconhece que a palavra de Deus contém ordens e palavras de vida, Deus o separa do mundo e leva ao deserto para falar com ele face a face. Esse é o caminho para encontrar-se com Deus. Jesus é a palavra encarnada, o Verbo vivo e o caminho da salvação!
::Daniel Lopez
Jornalista, mestre em Linguística e professor de Filosofia da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo estudado hebraico na Sinagoga ARI, em Botafogo – RJ. daniel4310lago@yahoo.com.br/ imersaoeintimidade@yahoo.com.br
Colaborador do portal Lagoinha.com
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Desvendando os Frutos - Fidelidade
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Continuando nossa sequência de estudos sobre o Fruto do Espírito, analisaremos hoje a “fidelidade”. No versículo de Gálatas 5.22, a palavra grega utilizada pelo apóstolo Paulo é “pistis”, que também pode significar “persuasão”. Assim vemos que a fé e a fidelidade surgem quando deixamos que a Palavra de Deus nos persuada, de modo que ouvimos a mensagem de Cristo e a praticamos. A fidelidade está relacionada ao ato de cumprir com aquilo que foi ordenado, a atender a uma ordenação divina. Cristo, porém, exortou o povo dizendo o seguinte: “Por que me chamais Senhor, Senhor e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6.46). É fundamental na manifestação do fruto da fidelidade a obediência às palavras e ordenanças de Cristo, sendo persuadido e persuadindo as demais pessoas e seguir o caminho que Jesus trilhou.
A palavra grega “pistis” vem de “peitho”, que pode significar “conciliar” ou “pacificar”. Quando somos fiéis a Deus, ele acalma a tempestade e, ainda que tudo esteja aparentemente mal, Cristo coloca uma paz em nosso coração. Assim se sentiu Paulo quando, expressando sua total fidelidade ao chamado de Deus em sua vida, disse: “Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (Atos 21.13). Isso é fidelidade. Observe como é diferente da ideia de fidelidade que tem sido pregada nos dias atuais, uma fidelidade que se formos fiéis receberemos casas, carros e bens materiais. A fidelidade de Paulo nunca poderia estar associada ao recebimento de bens materiais, pois ele não estaria mais aqui para deles usufruir.
A palavra hebraica para fidelidade é “emunah”, termo que está diretamente relacionado à ideia de firmeza e constância. Um dos termos relacionados é “‘aman”, que significa “pilar” ou “sustentação”, porque nossa fidelidade com Deus é o que nos sustenta e o que nos torna sustentados por ele. Da mesma forma, aquele que é fiel a Deus também é um pilar de sustentação na vida das pessoas que com ele se relacionam.
Outro termo derivado é “‘amon”, que significa “arquiteto”, porque aquele possui o fruto da fidelidade se torna um arquiteto e construtor do Reino de Deus na terra, como lemos em 1 Pedro 2.3: “Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo”. Aqueles que são fieis a Cristo estão construindo a Nova Jerusalém na Terra.
Uma palavra também relacionada é “yamiyn”, que significa “a destra” ou “o lado direito”. Isso porque aquele que pratica a fidelidade optou por dobrar à direta, para o lado em que Cristo está assentado, como lemos nos seguintes versículos: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis” (Atos 2.33); “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé a destra de Deus” (Atos 7.56). Dobrar à direita exige fazer uma curva na rota de nossas vidas, e seguir trilhando esta estrada até chegarmos ao destino, que é a comunhão plena com Deus.
Uma palavra muito conhecida que também se relaciona com ‘emunah é o termo hebraico “’amen”. A pessoa que é fiel a Deus diz “amém” para tudo aquilo que o Senhor ordena. Quem é fiel não fica apresentando a Deus seus sonhos e pedindo a ele que os realize, mas pergunta para Deus quais são os sonhos do Senhor para sua vida. E quando Jesus revela a missão para a vida de seus servos, aqueles que são fieis dizem “amém”, assim como os heróis da fé que entregaram suas vidas em fidelidade a Deus (Hebreus 11).
Temos também a palavra “’omnah”, que significa “tutela”. Assim vemos que aquele que é fiel está sob a tutela o Senhor, de modo que é um discípulo fiel, pois aprende com o mestre e realiza as obras que aprendeu de seu Senhor (Mateus 11.29). Hoje aprendemos com a televisão, nos inspiramos nas grandes estrelas e celebridades. Dessa maneira, nunca poderemos ser verdadeiros discípulos, pois ser fiel é ser um imitador, não das celebridades, mas de Cristo (Efésios 5.1). Aquele que é fiel mostra, com sua própria vida, que é um aluno de Cristo.
A palavra relacionada “’amanah” significa “aliança”. Quem é fiel a Deus expressa em sua vida que está firmemente aliançado com Cristo, que faz jus ao pacto feito por Jesus com a humanidade, quando foi moído pelas nossas transgressões e por meio de cujas pisaduras fomos sarados (Isaías 53).
Fidelidade é estar firme em Deus, em obediência irrestrita. A fidelidade é a única maneira que um cristão pode vencer a morte e estar eternamente com Deus, pois se o discípulo não trilhar o caminho, que é Jesus, como chegará ao destino almejado? Busque o Fruto do Espírito e seja abençoado pelo manancial eterno que é a Palavra de Deus!
::Daniel Lopez
Jornalista e doutorando em Linguística na Universidade Federal Fluminense (UFF). É também professor universitário, tradutor e diretor do programa e ministério Desvendando o Original.
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