quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Números - Aula 02



Mergulhando na Palavra

Livro de Números: Aula 02

I- Números 11: A Revolta do Povo


Versículo 1:
“Queixou-se o povo de sua sorte aos ouvidos do SENHOR; ouvindo-o o SENHOR, acendeu-se-lhe a ira, e fogo do SENHOR ardeu entre eles e consumiu extremidades do arraial”.

a) Queixou-se (Heb. ‘Anan). A raiz é ‘an, que significa “produzir”, fruto da união da letra ‘aleph (que significa touro e representa a força) com a letra nun (que significa semente e representa a continuidade). Unidas, essas letras significam “a força da frutificação” ou “a busca pela produção”. A palavra ‘anan (queixar-se) se refere à indignação pela falta de frutificação, pela falta de frutos. Todavia, o Salmo 1 nos mostra o que o homem deve fazer para ser frutífero. Em João 15 Jesus também nos mostra que, para sermos frutíferos, devemos estar ligado à videira e ter Deus Pai como lavrador. O povo, no deserto, estava reclamando da falta de comida, mas não agia como pessoas que buscam, de Deus, sua frutificação. Na verdade, eles tinham tudo o que precisavam. Mas usaram seu vigor (‘on) de maneira vã (‘aven). Por sua ingratidão, Deus os puniu, tendo desejado a carne e louvando a antiga vida no Egito. Assim como o figo (te’en) é um fruto que exige vigor (‘on) para ser encontrado, pois, sendo verde, se mistura com a cor verde das folhas, a frutificação também é alcançada quando empenhamos nossa força não de forma vã (‘aven), mas da maneira correta. Do contrário, todo trabalho será exaustivo (te’un) e não resultará em nada (‘eyin).

b) Ouvidos (Hb. ‘Ozen). A raiz é zan, formada por duas letras, zain (foice) e nun (semente), que unidas formam a ideia de “colher sementes”. Ou seja, em hebraico, a orelha é usada, assim como a enxada e a foice, para abrir caminho no mato e colher sementes. É por isso que Paulo nos ensina que “a fé vem pelo ouvir as palavras de Deus” (Romanos 10.17). Quando ouvimos a palavra de Deus, é como se estivéssemos colhendo sementes que frutificarão em nosso interior. Deus também gosta de colher nossas sementes, nosso louvor, nossa adoração. Todavia, em vez de louvar, o povo estava murmurando, fazendo com que chegasse aos ouvidos de Deus, não sementes, mas o joio. O que Deus escutou deles não soou aos seus ouvidos como uma colheita de sementes, mas como som de adultério (zanah), pois louvaram o Egito e rejeitaram a libertação divina, desejando mantimentos (mazon) que não procediam de Deus, já que eram dedicados aos ídolos.

c) Acendeu (Hb. Charah). A raiz é Char, cuja ideia é “calor”, palavra formada por duas letras hebraicas, chet (parede) e resh (cabeça, homem), que significa “o homem além da parede”, ou seja, “o homem do lado de fora”. Quando o antigo judeu saía de sua tenda para cuidar do rebanho, ficava exposto ao calor do sol, por isso, a palavra charah significa “acender” ou “queimar”. Ou seja, quando Deus “acende”, significa que Ele está prestes a julgar o homem, expondo-o à luz da verdade, ao calor de sua glória, de modo que o homem está “do lado de fora”, não mais protegido “à sombra do onipotente”, no “esconderijo do altíssimo” (Salmo 91.1). Cabe observar que Moisés somente sobreviveu a uma exposição à glória de Deus porque se escondeu na rocha, que simboliza Cristo (Êxodo 33.22).

d) Fogo (Hb. ‘Esh). A raiz é formada por duas letras, ‘aleph (touro: força) e shim (dente: pressionar), que juntas trazem a ideia de “forte pressão”. O fogo era produzido através de um graveto que, pressionado fortemente contra uma tábua, incendiava a palha com a ajuda de assopros. Assim, vemos que o fogo é produzido por uma pressão e o vento alimenta e espalha o fogo. Se formos obedientes, Deus nos batiza com o Espírito Santo, que é fogo. Todavia, o rebelde é pressionado por Deus e destruído pelo fogo. Ou seja, dependendo das atitudes do homem, ele pode receber um fogo (‘esh) que trará fundamento (‘osh) para sua vida, ou um fogo (‘esh) que trará desespero (ya’ash).

e) Ardeu (Hb. Ba’ar). O termo significa “consumir”, pois está relacionado com basar (carne), ou seja, com aquilo que eles desejaram, motivados pelas reclamações dos estrangeiros que viajavam junto com eles, o que foi o motivo de sua destruição. Os desejos carnais fizeram com que a ira de Deus se acendesse contra eles.

f) Consumiu (Hb. ‘Okhel). Literalmente, “comeu”, “devorou”. A raiz é formada por duas letras, lâmed (cajado: autoridade-vontade) e kaph (mão fechada: subjugar-dobrar), que juntas significam “domar a vontade”, como um animal adestrado. Por isso, a palavra derivada “kol” significa “todo” ou “completo”, ou seja, um animal completamente preparado para o trabalho. A palavra tanto pode significar algo consumido (como um alimento) ou algo destruído. Dependendo da atitude do homem, o fogo de Deus poderá consumir suas falhas e purificá-lo, ou destruí-lo. Deus enviou o fogo para que, assim, os homens domassem seus desejos pecaminosos, dobrando-se e submetendo-se à vontade divina. Porém, logo em seguida, o coração deles ardeu (ba’ar) novamente, não em busca da presença de Deus, mas almejando a carne (basar). O fogo de Deus pode consumir-nos (‘okhel), para tornar-nos como um vaso (keliy), dobrando (mikhlah) nossa vontade, para brilhar e tornar nossas vestes brancas e puras como a noiva (kallah) de Cristo, e funcionar como um combustível (ma’akholeth) que sustenta (kul) nossa fé. Ou, se formos rebeldes, pode funcionar como uma prisão (kele’) para refrear (kala’) nossa rebeldia, já que nos tornamos vilões (kelay) diante de Deus, e não mais povo seu, mas apenas estrangeiros misturados (kil’ayim) no meio de seu povo, como era o caso desses murmuradores.

g) Extremidade (Hb. Qatseh). Este era o local onde ficavam os estrangeiros que estavam misturados com os judeus, e que iniciaram a rebelião (Números 11.4). A raiz de qatseh (extremidade) se relaciona com a ideia de “cortar” (qatsah). Ou seja, estes que estavam na extremidade (qatseh) e foram cortados (qatsah) não eram do povo de Deus. Assim como a circuncisão, que é também o corte de uma extremidade do corpo e que faz com que a pessoa se torne parte do povo de Deus, o Senhor cortou o povo que não pertencia a ele, para tornar o resto do corpo uma propriedade divina.

h) Arraial (Hb. Machaneh). A raiz é formada por duas letras, chet (parede) e nun (semente, continuidade), que unidas trazem a ideia de “parede contínua”, porque o arraial era formado por vária tendas, cada uma pertencente a uma família, que formavam um círculo com uma parede contínua, que protegia o povo. Era uma imagem tão bela que a raiz da palavra machaneh (tenda) é chen, que significa “beleza”. Foi essa beleza que impressionou Balaão quando estava prestes a amaldiçoar os judeus. Tal beleza o fez titubear em seu mau intento (Números 24.5-6). Deus destruiu a extremidade do arraial para preservar a beleza do acampamento, pois o Senhor repreende aqueles a quem ele ama (Provérbios 3.12).

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Desvendando os frutos - Mansidão



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Retornamos ao nosso estudo sobre o Fruto do Espírito. Hoje, analisaremos a mansidão. Em grego, a palavra mansidão é “praotes”, que significa “gentileza” e “humildade”. A raiz dessa palavra é “praus”, que significa “suavidade”. Na versão João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada, o termo “praotes” é traduzido, em Gálatas 6.1, como “brandura”, e em Tito 3.2, como “cortesia”. Podemos ver esse fruto sendo manifesto em Jesus quando, diante de seus algozes e acusadores, em meio ao espancamento e humilhação, não emite palavra de maldição, mas disse, “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lucas 23.34). Exige-se um exercício de busca ao Senhor e intimidade com Ele para que alguém possa manifestar este fruto.

Em hebraico, o termo equivalente a “mansidão” é “‘anav”, cuja raiz “‘an” é formada por duas letras: “aiyn”, que significa “olho”, e “nun” que significa “perpetuidade”, “continuidade”, “germinar”. Ou seja, a reunião das letras “aiyn” e “nun” (an), significa “o olhar da continuidade”. No antigo costume judaico, o agricultor nômade dedicava grande atenção ao cuidado de seu rebanho e cereais, olhando e vigiando continuamente sua propriedade.

Era comum construir um abrigo com um telhado sobre quatro postes de madeira para protegê-los do sol, como uma nuvem (‘anan). Ou seja, o humilde é que aquele que tem mansidão ao cuidar de sua propriedade, da herança que o Senhor lhe concedeu por meio do sacrifício de Cristo na cruz, a saber, a vida eterna. Aquele que responde com mansidão ao ato de agressão está, na verdade, fazendo como o nômade judaico, cuidando atentamente de sua herança, pois a falta de mansidão é pecado, erro que faz separação entre nós e Deus (Isaías 59.2). Quando somos mansos, estamos protegendo nossa alma contra o pecado, e garantindo a proteção de nossa propriedade mais valiosa, nossa alma, como está escrito: “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?” (Mateus 16.26). Quando respondemos a uma agressão com outra agressão, estamos corrompendo nossa alma e vivendo o versículo que “um abismo chama outro abismo” (Salmo 42.7). Quando não perdoamos, não somos perdoados (Mateus 6.15). Quando somos mansos, o perdão chega facilmente, e nossa alma permanece imune ao poder do pecado.

Em hebraico, a palavra para mansidão (‘anav) possui uma gama de outros termos relacionados que anunciam profundas verdades espirituais sobre esse fruto do Espírito. Um dos termos relacionados é “‘anah”, que significa “aflição”. Isso porque o homem que opta por seguir o caminho da santidade, não se conformar com este mundo, viver a verdade do evangelho, terá aflições nesse mundo, como Jesus anunciou: “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.33). Se analisarmos o contexto da passagem em que Jesus falou esse versículo, veremos que aqueles que optam pela mansidão, pela obediência a Deus, serão aqueles que passarão pelas maiores aflições. Como é de conhecimento comum, todos os apóstolos, exceto João, foram assassinados, martirizados por optar por seguir Jesus e pregar sua palavra a todo custo. Ou seja, os mansos serão perseguidos, mas a presença de Deus nos garante a paz, como também foi dito: “Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só, mas não estou só, porque o Pai está comigo.  Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.32-33).

Outra palavra relacionada à mansidão (‘anav) é “ta’aniyth”, que significa “jejum”, pois aqueles que buscam a mansidão somente poderão encontrá-la com uma prática rotineira de jejum e orações. O jejum gera também uma aflição, devido à fome, mas essa aflição também nos gera bom ânimo, pois com ele recebemos poder para vencer o mundo. Foi por meio do jejum que Cristo teve mansidão e poder para vencer satanás do deserto, quando foi tentado (Mateus 4.1-11). 

Outro termo afiliado a mansidão (‘anav) é “‘anan”, que significa “nuvem”. Isso porque o homem que segue a mansidão e guarda sua alma da cominação do pecado e da opressão da raiz de amargura tem, sobre si, a proteção de Deus, como uma nuvem que está sobre ele, escondendo-o à sombra do onipotente, no esconderijo do altíssimo (Salmo 91.1).  

A palavra hebraica para mansidão (‘anav) também se relaciona com “coruja” (ya’anah), pois a coruja é um animal que está sempre com seus grandes olhos abertos em estado de vigia. Assim também é aquele que possui o fruto da mansidão, pois está sempre, como um bom pastor, vigiando e observando seu rebanho, sua herança, sua vida, sua santidade e sua família.

Por fim, outra palavra relacionada com mansidão (‘anav) é o termo “ma’yan”, que significa “fonte”, “manancial”. O manso guarda-se do mal, da ira, da revolta, e assim agindo retém em si a palavra Deus, pois está limpo pela água da palavra (João 15.3). Mas não é apenas um recipiente que guarda a água da Palavra de Deus, mas um manancial de um rio que jorra para a vida eterna, pois quando abre sua boca, palavras de vida fluem de seu interior e levam aqueles que as escutam a um verdadeiro encontro com Cristo.

Busque não somente os dons, mas também o Fruto do Espírito, pois será por meio dos frutos que seremos conhecidos por Cristo (Mateus 7.16).  

::Daniel Lopez
Jornalista e doutorando em Linguística na Universidade Federal Fluminense (UFF). É também professor universitário, tradutor e diretor do programa e ministério Desvendando o Original.

www.desvendandooriginal.blogspot.com / @Daniel_L_Lopez / @desvendandoorig / daniel4310lago@yahoo.com.br

Colaborador do portal Lagoinha.com  

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Um Nome sobre todo nome



Um nome sobre todo nome

Pro 30:4 “Quem subiu ao céu e desceu? Quem encerrou os ventos nos seus punhos? Quem amarrou as águas na sua roupa? Quem estabeleceu todas as extremidades da terra? Qual é o seu nome, e qual é o nome de seu filho, se é que o sabes?”.

1- Qual é o seu nome? Primeiro o que significa nome em hebraico?

2- Shem - “nome”, “reputação”, “caráter”. Quando Deus muda o caráter de alguém, ele muda seu nome (Abrão-Abraão; Jacó-Israel; Oséias-Josué).

3- Conhecer o caráter de Deus e conhecer seu nome é a mesma coisa. “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome...” (2 Crônicas 7.14). Esse povo conhecia o nome e o caráter de Deus.

4- Deus revelou seu nome a Moisés. “Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE EU SOU” (Êxodo 3.13-14).

5- “Vai, ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O SENHOR (Yehovah), o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que vos tem sido feito no Egito” (Exo 3:16).

6- Para termos o caráter de Deus, temos que conhecer seu nome, pois ele disse: “Eu sou o SENHOR (Yahovah), vosso Deus; portanto, vós vos consagrareis e sereis santos, porque eu sou santo” (Lev 11:44).

7- O que significa o nome de Deus e o que aprendemos sobre Deus através desse nome? O povo que se chama pelo nome de Deus deve ter o caráter dele. O povo que se chama pelo caráter de Yehovah deve ter o caráter de Yehovah.

8- Yehovah. “O auto-existente”, “O Eterno”. Ou seja, aquele que se torna filho de Deus recebe o dom de viver eternamente e vencer a morte. Ou seja, ter o caráter de Yahovah é, primeiramente, ter o dom da vida eterna, porque recebeu dele a salvação. Quem está na Igreja e não está buscando a vida eterna ainda não compreendeu o caráter de Deus.

9- E da mesma maneira, nós também recebemos o poder de anunciar o caminho da vida eterna para as demais pessoas. Quem não busca sua salvação e não prega a salvação ainda não conhece o caráter de Yehovah.

10- Yehovah está relacionado com Chavvah, “o doador de vida”. O nome de Eva. “E chamou Adão o nome de sua mulher Eva, porquanto ela era a mãe de todos os viventes” (Gen 3:20).

11- Ou seja, assim como Yehovah é o doador da vida, nós também temos o poder de doar vida, se bebermos do manancial de vida e nos tornarmos um manancial de vida, como Jesus falou para a mulher samaritana (João 4.5-30).

12- Jesus oferece a água. A mulher pede água. Mas para ela receber essa água, ela deveria renunciar sua vida de pecado, de adultério, de prostituição. Depois que ela é convencida de seu pecado e recebe a água da vida, ela vai à cidade e anuncia a Palavra de Yehovah, jorrando rios de água viva com as palavras que dizia.

13- Chavah também significa “viver” e “anunciar” ao mesmo tempo. Isso porque quem está vivo anuncia a vida. Este é o sinal que acompanha o vivo (Marcos 16.17-18).

14- Yehovah também se relaciona com chay, que significa “vivo” e “apetite”. Quando a pessoa está com estômago vazio e come, é como se revivesse. Ou seja, aquele que tem o caráter de Yehovah se alimenta de Deus e por isso tem um apetite de conhecer mais de Deus e um apetite por anunciar a Palavra de Deus.

15- Aquele que conhece o caráter de Yahovah se alimenta de Deus e alimenta os que anseiam ardentemente pela revelação dos filhos de Deus (Romanos 8.19). Ele sabe que nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus m (Mateus 4.4; Deuteronômio 8.3).

16- A raiz de Yehovah é Hahh, que significa um sinal de espanto. Conhecer a Deus é um espanto constante, pois Deus sempre nos surpreende. E quem se espanta com a maravilha de Deus anuncia essa maravilha aos demais, como fez André quando encontrou com Jesus (João 1.40-42).

17- João disse uma coisa que o levou a um espanto. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. “Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 João 3.2-3). O espanto (Apocalipse 1.10-17).

18- E qual é o nome de seu filho? Seu filho de chama Yehoshua, união entre Yehovah e Yasha’, que significa “Yehovah é a salvação” (Olhar, pastor, deleite - “o olhar do destruidor”).

sábado, 12 de novembro de 2011

Mergulhando na Palavra - O Levítico - Aula 11



Desvendando o Levítico

1- Dois tipos de sacrifício: de sangue e de cereais (majares).

2- Sacrifício de sangue:

3- Sangue: Dam (“fluxo do líquido”). O sangue deve estar em movimento, senão o animal morre (muth). No sangue está a vida (Lv 17.11). Quando um animal perde seu sangue, a vida sai dele e vai em favor da pessoa que fez o sacrifício, perdoando seu pecado e restituindo-lhe sua vida.

4- Quando o sangue é derramado para perdão de pecado, o acusador (satan) fica mudo (damam) e o pecador, agora perdoado, se torna novamente semelhante ao criador, que é santo, como diz a passagem “Sede santos por que eu sou Santo” (Lv 11.44).

5- Os animais sacrificados eram designados conforma a posse da pessoa. E o pecado fosse de um sumo-sacerdote, deveria sacrificar um touro (animal mais caro), depois um bode (para outras pessoas) e uma pomba (para os mais pobres). Ou seja, assim vemos, na prática, o versículo (Lucas 12.48).

6- Os 4 tipos de ofertas de sangue são:

7- Ofertas queimadas (holocausto). Em hebraico, ‘olah, que significa “degrau”, pois a fumaça sobe.

8- Ofertas pacíficas (shelem). Relacionada a shillum (“pagamento”) e shillem (“recompensa”), shalam (“estar completo”) e shalom (“paz”). Quem paga o preço do sacrifício, recebe a recompensa por seu trabalho e fica completo, pois está em comunhão com Deus, assim está em paz, pois “destruiu a autoridade do caos”.

9- Ofertas pelo pecado (chattat). Relacionada à ideia de “errar” (chata’) e “corda” (chut), pois quando um arqueiro erra o alvo, a distância é medida com uma corda. Ou seja, esse sacrifício faz com que o erro (chata’) do pecado (chatiy) seja medido, e corrigido, e o pecador seja novamente unido (chut) a Deus.

10- As ofertas de culpa (‘asham). Essa oferta restitui o caráter (shem) e o nome (shem) da pessoa, pois o erro se deveu a um desvio de caráter. E está escrito: “Mais vale um bom nome do que as muitas riquezas” (Provérbios 22.1). Essa oferta restitui o fôlego (neshamah) de vida, pois o homem que estava “lá” (sham), longe de Deus, recebe novamente o direito de ser um cidadão do céu (shamaym), cujo sacrifício subiu como um aroma (sam) suave a Deus. A culpa (‘asham) e a desolação (shammah), que faziam de sua vida um deserto (yeshiymon), vão para “lá” (sham), e uma chuva (geshem) irriga a vida da pessoa como o óleo (shemen) da unção, fazendo com que, por sua obediência (shama’), brilhe como o sol (shemesh), pois recebeu a remissão (shemittah) de seu pecado, consumido (shemad) junto com o sacrifício.

11- Sacrifício de manjares:

a- Manjares (minchah), significa “local de descanso”. Deveria ser acompanhado de óleo (em hebraico, shemen, “fértil”), incenso (lebonah, “tijolo”, “para o construtor”, pois sobre aos céus como aroma suave) e sal (para conservação).

b- Não poderia haver fermento (chamets), e nem mel (debash), pois este poderia fermentar o alimento.

c- Mel (debash). Relaciona-se com dabab (“mexer-se lentamente”), tristeza (‘adab) e pena (da’ab), amargo como o fermento.

d- Fermento (chamets). Relaciona-se com “cruel”, “irado”, “raiva” (chemah), e chamots (“violento”, “ladrão” ou “oprimido”).

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Mergulhando na Palavra - Levítico



Levítico consiste na maior parte em escrita legislativa, grande parte dela sendo também profética. No todo, o livro segue um esboço tópico, e pode ser dividido em oito partes, que seguem uma ordem sucessiva bastante lógica.

Regulamentos sobre sacrifícios (1:17:38). Os diversos sacrifícios caem em duas categorias gerais: de sangue, consistindo em bovinos, ovelhas, cabritos e aves; e exangues, consistindo em cereais. Os sacrifícios de sangue devem ser apresentados como ofertas (1) queimadas, (2) de participação em comum, (3) pelo pecado ou (4) pela culpa. Os quatro tipos de oferta têm as seguintes três coisas em comum: o próprio ofertante tem de trazer o animal à entrada da tenda de reunião, colocar as mãos sobre ele e daí o animal tem de ser abatido. Depois da aspersão do sangue, é preciso dar destino à carcaça segundo a espécie de sacrifício. Consideremos agora os sacrifícios de sangue, um por vez.

(1) As ofertas queimadas podem consistir num novilho, cordeiro, cabrito, rola ou pombo, dependendo das posses do ofertante. Têm de ser cortadas em pedaços e, com exceção da pele, a oferta toda tem de ser queimada sobre o altar. Em caso de rola ou de pombo, a cabeça tem de ser truncada com a unha, mas não decepada, e o papo e as penas removidos. 1:1-17; 6:8-13; 5:8.

(2) O sacrifício de participação em comum pode ser de um macho ou uma fêmea dos bovinos ou dos rebanhos. Só as partes gordurosas serão queimadas sobre o altar, certas porções cabendo ao sacerdote e o resto devendo ser comido pelo ofertante. É chamado apropriadamente de sacrifício de participação em comum, pois, mediante ele, o ofertante participa de uma refeição, ou tem comunhão, por assim dizer, com Deus e com o sacerdote. 3:1-17; 7:11-36.

(3) Exige-se uma oferta pelo pecado para pecados não intencionais, ou pecados cometidos por engano. O tipo de animal oferecido depende de quem é o pecado que será expiado do sacerdote, do povo como um todo, dum chefe ou duma pessoa comum. Dessemelhantes das voluntárias ofertas queimadas e de participação em comum para indivíduos, as ofertas pelo pecado são obrigatórias. 4:1-35; 6:24-30.

(4) As ofertas pela culpa são exigidas para expiar a culpa pessoal devido à infidelidade, à fraude e ao roubo. Em certos casos, a culpa requer que se confesse e se faça um sacrifício segundo as posses da pessoa. Noutros, exige-se a compensação equivalente à perda e mais 20 por cento, bem como o sacrifício de um carneiro. Nesta parte de Levítico, que trata das ofertas, proíbe-se enfática e repetidamente o comer sangue. 5:16:7; 7:1-7, 26, 27; 3:17.

Os sacrifícios exangues têm de ser de cereais e são oferecidos quer assados inteiros, quer pilados ou em farinha fina; preparados de vários modos, tais como assados, grelhados ou fritos em gordura. Devem ser oferecidos com sal e azeite e, às vezes, com olíbano, mas têm de estar totalmente isentos de fermento ou mel. Em certos sacrifícios, uma parte pertencerá ao sacerdote. 2:1-16.

Investidura do sacerdócio (8:1-10:20). Chega então o tempo para uma grande ocasião em Israel, a investidura do sacerdócio. Moisés cuida disso em todos os pormenores, como Deus lhe ordenara. "E Arão e seus filhos passaram a fazer todas as coisas que Deus ordenara por meio de Moisés." (8:36) Depois dos sete dias ocupados com a investidura, há um espetáculo milagroso e fortalecedor da fé. A assembléia inteira está presente. Os sacerdotes acabam de oferecer sacrifício. Arão e Moisés já abençoaram o povo. Daí, veja! "A glória de Deus apareceu . . . a todo o povo. E desceu fogo de diante de Deus e começou a consumir a oferta queimada e os pedaços gordos sobre o altar. Quando todo o povo chegou a ver isso, irromperam em gritos e prostraram-se sobre as suas faces." (9:23, 24) Deveras, Deus é digno da obediência e da adoração deles!

Contudo, há transgressões da Lei. Por exemplo, os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, oferecem fogo ilegítimo perante Deus. "Saiu então fogo de diante de Deus e os consumiu, de modo que morreram perante Deus." (10:2) A fim de oferecerem sacrifícios aceitáveis e gozarem da aprovação de Deus, tanto o povo como os sacerdotes têm de seguir as instruções de Deus. Logo depois, Deus dá o mandamento de que os sacerdotes não devem tomar bebidas alcoólicas enquanto servem no tabernáculo, dando a entender que a embriaguez talvez tenha contribuído para a transgressão dos dois filhos de Arão.

Leis sobre a pureza (11:1-15:33). Esta parte trata da pureza cerimonial e higiênica. Certos animais, tanto domésticos como selvagens, são impuros. Todos os corpos mortos são impuros e tornam impuros a todos os que neles tocam. O nascimento duma criança também traz impureza e requer separação e sacrifícios especiais.

Certas doenças da pele, como a lepra, também causam impureza cerimonial, e a limpeza tem de ser aplicada não só a pessoas, mas também à roupa e às casas. Requer-se o isolamento. A menstruação e as emissões seminais resultam também em impureza, bem como os fluxos. Requer-se a separação nestes casos e, no restabelecimento, em adição, a lavagem do corpo ou a oferta de sacrifícios, ou ambas.

Dia da Expiação (16:1-34). Este é um capítulo notável, pois contém as instruções para o dia mais importante para Israel, o Dia da Expiação, que cai no décimo dia do sétimo mês. É um dia para afligir a alma (com toda a probabilidade com jejum) e não se permitirá nenhum trabalho secular. Começa com a oferta de um novilho pelos pecados de Arão e sua família, a tribo de Levi, seguida da oferta de um bode pelo restante da nação. Depois da queima do incenso, parte do sangue dos dois animais tem de ser trazida, por sua vez, para o Santíssimo do tabernáculo, a fim de ser aspergido perante a tampa da Arca. Mais tarde, as carcaças dos animais têm de ser levadas para fora do acampamento e ser queimadas. Neste dia tem de se apresentar também um bode vivo diante de Deus, e sobre ele tem de se declarar todos os pecados do povo, após o que tem de ser conduzido para fora, para o ermo. Daí, dois carneiros tem de ser oferecidos como ofertas queimadas, um para Arão e sua família, e outro para o restante da nação.

Estatutos sobre sangue e outros assuntos (17:1-20:27). Esta parte apresenta muitos estatutos para o povo. Proíbe-se outra vez o sangue, numa das mais explícitas declarações sobre sangue que existe nas Escrituras. (17:10-14) O sangue pode ser usado apropriadamente no altar, mas não para consumo. Proíbem-se práticas detestáveis, como incesto, sodomia e bestialidade. Há regulamentos para a proteção dos aflitos, dos humildes e dos estrangeiros, e dá-se o mandamento: "Tens de amar o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor." (19:18) Resguarda-se o bem-estar social e econômico da nação, e os perigos espirituais, tais como a adoração de Moloque e o espiritismo, são proscritos, sob pena de morte. Deus frisa outra vez a necessidade de seu povo manter-se separado: "E tendes de mostrar-vos santos para mim, porque eu, Deus, sou santo, e estou passando a separar-vos dos povos para vos tornardes meus." 20:26.

O sacerdócio e as festividades (21:1-25:55). Os três capítulos seguintes tratam principalmente da adoração formal de Israel: os estatutos que governam os sacerdotes, as suas qualificações físicas, com quem podem casar-se, quem pode comer coisas sagradas e os requisitos quanto a animais sadios que devem ser usados em sacrifícios. Ordenam-se três festividades nacionais sazonais, proporcionando ocasiões de 'alegria perante Deus, vosso Deus'. (23:40) Como um só homem, a nação voltará assim a sua atenção, louvor e adoração a Deus, fortalecendo a sua relação com ele. Essas são festividades para Deus, santos congressos anuais. A Páscoa, juntamente com a Festividade dos Pães Não Fermentados, é marcada para princípios da primavera; o Pentecostes, ou a Festividade das Semanas, em fins da primavera; e o Dia da Expiação, juntamente com a Festividade das Barracas, ou Recolhimento, de oito dias, no outono.

No capítulo 24, dá-se instrução relativa ao pão e ao azeite a serem usados no serviço do tabernáculo. Segue-se ali o incidente em que Deus decide que todo aquele que abusar do "Nome" sim, o nome Senhor, tem de ser morto por apedrejamento. Declara a seguir a lei da punição de igual por igual: "Olho por olho, dente por dente." (24:11-16, 20) No capítulo 25, acham-se regulamentos sobre o sábado de um ano, ou ano de repouso, a ser comemorado a cada 7 anos, e o Jubileu, a cada 50 anos. Neste 50.° ano, deve-se proclamar a liberdade em todo o país, e as propriedades hereditárias vendidas ou cedidas durante os últimos 49 anos devem ser restituídas. Dão-se leis que protegem os direitos dos pobres e dos escravos. Nesta parte, o número "sete" aparece destacadamente o sétimo dia, o sétimo ano, festividades de sete dias, um período de sete semanas, e o Jubileu, a vir depois de sete vezes sete anos.

As conseqüências da obediência e da desobediência (26:1-46). O livro de Levítico atinge o seu clímax neste capítulo. Deus alista aqui as recompensas pela obediência e os castigos pela desobediência. Ao mesmo tempo, apresenta a esperança para os israelitas se estes se humilharem, dizendo: "Vou lembrar-me, em seu benefício, do pacto dos antecessores que fiz sair da terra do Egito sob os olhares das nações, para mostrar-me seu Deus. Eu sou o Senhor." 26:45.

Estatutos diversos (27:1-34). Levítico termina com instruções sobre o manejo das ofertas votivas, sobre o primogênito para Deus e sobre a décima parte que é santificada para Deus. Daí, vem o breve colofão: "Estes são os mandamentos que Deus deu a Moisés como ordens para os filhos de Israel, no monte Sinai." 27:34.

Texto extraído de:
http://www.fortalezaredes.com.br/documents/biblia/Antigo/Introlev.htm

domingo, 30 de outubro de 2011

Desvendando o original - Boxe



Muitos podem estar pensando: “mas que versículo é esse em que aparece a palavra ‘boxe’ na Bíblia?”. A Bíblia Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), da Sociedade Bíblica do Brasil, traduz assim 1 Coríntios 9.26: “Por isso corro direto para a linha final. Também sou como um lutador de boxe que não perde nenhum golpe”. Muitas pessoas que criticam a NTLH afirmam ser este um exemplo de que esta versão não é confiável, tendo em vista que Paulo não poderia se referir ao boxe, pois este seria, supostamente, um esporte que não existia à época. Porém, uma análise mais acurada do texto, e do contexto histórico em que foi produzido, nos conduzem a outra conclusão.

A versão mais famosa que conhecemos dessa passagem, a João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada, traz a seguinte tradução de 1 Coríntios 9.26: “Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar”. Se analisarmos o termo “luto” em grego, veremos que se trata da palavra pukteo. O Dicionário Strong define essa palavra como “boxear, utilizando os punhos, ou seja, lutar como um boxeador nos jogos. Figurativamente, lutar”. Ou seja, o sentido literal do termo pukteo é “boxear”, pois deriva de pux, que significa “punho”, e origina os termos pygme (“lutar boxe”) e pyktes (“boxeador”). A própria palavra “pugilista” deriva da raiz grega pux, que originou o termo latino pugil (“boxeador”) e pugnus (“punho”). Assim, vemos que a prática do boxe era muito famosa não apenas entre romanos, mas célebre desde os gregos e seus jogos olímpicos.


Jovens lutam boxe. Afresco da civilização minóica, em Acrotiri, Santorini, cerca de 1500 a.C.

Concluímos, portanto, que Paulo, grande conhecedor da cultura grega e romana, estava fazendo alusões às práticas esportivas (boxe e corrida) tanto gregas como romanas. Cabe lembrar que Paulo está escrevendo para os coríntios, habitantes de uma das mais famosas cidades gregas, que conheciam perfeitamente a prática do pygme, ou seja, o boxe grego. O apóstolo estava se referindo aos famosos Jogos Ístimicos. Em honra a Poseidon, a cada dois anos eram promovidos os Jogos Ístmicos, que tiveram extraordinária importância e esplendor na antiga Hélade. Eram realizados no Istmo de Corinto, ponto de ligação entre a Grécia continental e o Peloponeso. Esses torneios recebiam um grande número de participantes e espectadores, levando-se em consideração o fato de Corinto ser um dos mais importantes centros comerciais e de diversões daquele tempo.

Confrome Eusébio de Cesareia, em sua crônica 70, o boxe foi primeiramente considerado um desporto olímpico em 688 a.C., na 23ª olimpíada da antiguidade; seu vencedor foi Onomastus de Esmirna, que foi quem definiu as regras do esporte. O boxe era chmado de pygme ou pygmachia entre os gregos, que treinavam com sacos de areia chamados korykos e usavam faixas de couro nas mãos, como luvas, conhecidas como himantes. O boxe também foi praticado desde os primórdios da Roma Antiga.

As origens do boxe, porém, são mais antigas. Surgido no continente africano, remonta ao ano 6000 a.C., na região da atual Etiópia, de onde se difundiu primeiro à antiga civilização egípcia e aos povos mesopotâmios vizinhos, onde encontramos baixo relevos de boxeadores que datam do ano 5500 a.C. Do Egito, passou à civilizção minóica, em Creta, e de lá passou à mesopotâmia e chegou à India.


Boxeador de Quirinal. Escultura em bronze do período helenístico (século I a. C.). Note-se as faixas na mão esquerda do "boxeador de Terme". (Museu de Roma).

Por esta razão, conluímos que a tradução da NTLH foi muito pertinente, conforme é a opinião dos maiores comentaristas bíblicos. Adam Clarke (1760-1832), teólogo metodista e erudito bíblico britânico, explica que a expressão grega aera derein, traduzida por “golpes no ar”, deve ser interpretada como um treino de luta de boxe, em que o lutador praticava os golpes desferindo socos ao vento, prática relata por Virgílio (70 a.C-19 a.C.) em sua Eneida (verso 375). No comentário de Archibald Thomas Robertson (1863-1934), renomado erudito do Novo Testamento, lemos que “um boxeador agia assim quando treinava sem adversário, prática que era chamada pelos gregos de skiamachia (‘lutar com a sombra’)”. No comentário People’s New Testament, lemos que “Paulo usa, primeiramente, a figura de um corredor que possui um objetivo específico. A segunda figura é retirada do boxeador que erra o oponente o atinge o ar”. O grande comentarista Albert Barnes também confirma que se trata e uma luta de boxe, assim como o comentário Marvin R. Vincent (1834-1922).

Paulo, portanto, nos exorta a desferimos golpes certeiros, de modo que não percamos nossa energia com golpes ineficientes e, assim, evitemos o risco de receber um contra-ataque devastador.

Este é, portanto, mais um exemplo de que a Nova Tradução na Linguagem de Hoje é extremamente elucidativa e, pelo menos por mim, altamente recomendada.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Desvendando o Êxodo - Parte 1




O livro do Êxodo revela mistérios interessantíssimos sobre Deus e sobre seu projeto com o povo por Ele escolhido. Para iniciar, o nome original do livro é shemoth, que em hebraico significa “os nomes”, palavra que aparece na primeira frase do livro: “São estes os nomes...” (ve'êlleh shemoth). O interessante é que, em hebraico, a palavra nome também se relaciona com “reputação” e, por isso, com o “caráter”. Ou seja, este é o “Livros dos Nomes” (shemoth) e também o “Livro dos Caráteres”. Neste livro, portanto, Deus anuncia seu caráter a seu povo e exige deles que a ele se moldem, adequando-se a seu padrão de moralidade, de comportamento.

O interessante, portanto, é que além deste livro anunciar os nomes dos filhos de Israel que entraram com Jacó no Egito (Êxodo 1.1), ele também revela um nome, anteriormente anunciado a Adão e Abraão, que havia sido perdido, mas que agora é novamente revelado: o nome de Deus. Moisés disse a Deus: “Quando eu falar com os filhos de Israel sobre o Senhor, eles perguntarão: ‘Qual é o nome dele?’” (mah-shemo? - Êxodo 3.13). A resposta de Deus vai revelar uma mudança na história de Israel.

A resposta de Deus é: 'ehyeh 'asher 'ehyeh (Êxodo 3.14). Essa frase admite várias traduções. “Eu serei aquilo que eu serei”, conforme a tradução do termo 'ehyeh em Êxodo 3.12; “Eu fui aquilo que eu fui”, conforme 2 Samuel 15.34; ou “Eu sou aquilo que eu sou”, seguindo Rute 2.13. Podemos, também, traduzir: “Eu sou Aquele-que-Existe!”. Ou seja, Deus é aquele que permeia todo o tempo, é o eterno, aquele que persiste ao tempo, que sempre existiu e nunca deixará de existir.

Logo em seguida, Deus, porém, revela seu nome em sua forma mais famosa, quando diz: “Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR (Yehovah), o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nome (shemiy) eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração” (Êxodo 3.15).

Como vimos, o nome expressa o caráter. Quando Deus muda o caráter de alguém, Ele muda o nome da pessoa, como fez com Abrão (Abraão) e Jacó (Israel). O que, portanto, expressa o nome Yehovah? Este nome está relacionado com a raiz havah, que significa “respirar”, “existir”, “ter vida”. Ou seja, o Deus que está se apresentando a Moisés é aquele que Existe, aquele que pode dar o sopro de vida, e o único capaz de nos conceder a vida eterna. O curioso é que o termo havah se relaciona com hayah, que pode significar “ruína” ou “calamidade”, como em Jó 30.13. Assim vemos que o nosso Deus é o único capaz de dar a vida e o único capaz de destruí-la. Por isso, no Egito, Yehovah mostraria que Ele é o verdadeiro dono da vida e da morte, da criação e da destruição, da bênção e da maldição. Servi-lo e temê-lo é a postura mais sábia que um homem pode tomar.

sábado, 24 de setembro de 2011

Números 1.1 - Deserto: o santuário da ordem



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Como temos visto em nossos estudos, o texto bíblico, quando lido em sua língua original, apresenta novas possibilidades de significado. Textos famosos, que conhecemos muito bem, surgem com uma nova possibilidade de compreensão. Isso ocorre com Números 1.1, onde lemos:

“No segundo ano após a saída dos filhos de Israel do Egito, no primeiro dia do segundo mês, falou o SENHOR a Moisés, no deserto do Sinai, na tenda da congregação” (Almeida Revista e Atualizada).

O texto original em hebraico está escrito na seguinte ordem:

“Falou o SENHOR a Moisés, no deserto do Sinai, na tenda da congregação, no primeiro dia do segundo mês do segundo ano após a saída dos filhos de Israel do Egito”.

O início do texto hebraico, lido no original, revela mistérios interessantes. Analisaremos, portanto, o seguinte trecho: “Falou o SENHOR a Moisés, no deserto do Sinai”.

O termo “falou”, em hebraico, é derivado da palavra “dabar”, que pode significar “colocar em ordem”, pois vem de “der”, que significa “ordem”. O termo “der” é, por sua vez, relacionado a “dyr”, que significa “morar” ou “acampar”. Além disso, a palavra “dabar” está relacionada a “dabyr”, que significa “santuário” ou “lugar de ordem”. O curioso é que a palavra “dabar” (“falar”) dá origem ao termo “midbar” (“deserto” ou “lugar de colocar em ordem”).

Assim como as palavras são letras e sons colocados em ordem, as frases são formadas por palavras colocadas em ordem. Da mesma forma, a palavra e a fala são usadas para dar ordem às coisas e para estabelecer ordens, mandamentos. E o deserto, em hebraico, é o lugar do silêncio e da ordem, e foi por isso que Deus tirou seu povo do caos do Egito para santificá-los, ou seja, colocá-los em ordem no deserto.

A palavra “Senhor”, é, em hebraico, yehovah, que significa “aquele que existe”, “aquele que respira” ou “aquele que é”, pois vem de “havah”, que significa “respirar” ou “existir”. O termo yehovah está relacionado ao nome Eva (“chavvah”), que em hebraico significa “aquela que doa a vida”. Dessa maneira, o nome de Deus significa “aquele que existe” ou “aquele que vive”, por isso, todos os seres que vivem e que existem, vivem e existem porque de Deus receberam a vida.

Já o nome “Moisés”, que em hebraico é “mosheh”, significa “tirado” ou “resgatado”, pois ele foi tirado do rio Nilo. Dessa maneira, o termo “mosheh” também traz a ideia de “separado”, “eleito”. Moisés, tirado do rio Nilo, que é o símbolo da força do Egito, representa o povo de Deus, tirado do mundo perdido e trazido para perto da presença divina. Além disso, o nome Moisés também pode significar “aquele que leva para fora”, pois assim como ele foi salvo da morte no rio Nilo, ele conduziu o povo de Deus passando por dentro do mar Vermelho. Somente um que foi separado pode ajudar os demais a salvar-se.

A palavra “deserto”, como vimos, é em hebraico “midbar”, que pode significar “campo aberto”, “discurso”, “santuário”, “lugar onde se colocam as coisas em ordem”, relacionado ao termo “dabar” que significa “falar”, e com o termo “davar”, que significa “palavra”. Isso é muito curioso, pois foi no deserto que Deus falou abertamente com seu povo e lhes deu suas leis, que serviram para colocar ordem a vida daqueles que foram separados para viver em santidade. Muitas vezes, Deus precisa nos fazer passar por um deserto para que possamos escutar sua voz.

O nome “Sinai” está relacionado ao termo “sena’ah”, que pode significar “espinhoso”, “pontiagudo”, “sarça” ou “arbusto”. Também está relacionado ao termo “‘ason”, que significa “machucar” ou “causar dano”. No deserto (“midbar”), os espinhos (“seneh”) das tribulações que afligiram o povo de Deus serviram para ensinar-lhes a depender do Senhor, a viver segundo a ordem divina, e descobrir como organizar suas vidas conforme os preceitos recebidos no Sinai (“siynay”), naquele mesmo local em que Deus havia falado com Moisés através da sarça (“seneh”). Esse espinho funcionava para purificação, assim como aconteceu com o apóstolo Paulo, quando Deus colocou um espinho em sua carne para que ele não ficasse soberbo com as revelações que havia recebido (2 Coríntios 12.7).

Dessa maneira, podemos traduzir Números 1.1 da seguinte maneira:

“Aquele que existe colocou em ordem as coisas, com o homem que foi separado, no santuário onde são ordenadas as coisas por meio de espinhos”.

Quando o homem reconhece que a palavra de Deus contém ordens e palavras de vida, Deus o separa do mundo e leva ao deserto para falar com ele face a face. Esse é o caminho para encontrar-se com Deus. Jesus é a palavra encarnada, o Verbo vivo e o caminho da salvação!

::Daniel Lopez

Jornalista, mestre em Linguística e professor de Filosofia da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo estudado hebraico na Sinagoga ARI, em Botafogo – RJ. daniel4310lago@yahoo.com.br/ imersaoeintimidade@yahoo.com.br

Colaborador do portal Lagoinha.com

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Desvendando os Frutos - Fidelidade



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Continuando nossa sequência de estudos sobre o Fruto do Espírito, analisaremos hoje a “fidelidade”. No versículo de Gálatas 5.22, a palavra grega utilizada pelo apóstolo Paulo é “pistis”, que também pode significar “persuasão”. Assim vemos que a fé e a fidelidade surgem quando deixamos que a Palavra de Deus nos persuada, de modo que ouvimos a mensagem de Cristo e a praticamos. A fidelidade está relacionada ao ato de cumprir com aquilo que foi ordenado, a atender a uma ordenação divina. Cristo, porém, exortou o povo dizendo o seguinte: “Por que me chamais Senhor, Senhor e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6.46). É fundamental na manifestação do fruto da fidelidade a obediência às palavras e ordenanças de Cristo, sendo persuadido e persuadindo as demais pessoas e seguir o caminho que Jesus trilhou.

A palavra grega “pistis” vem de “peitho”, que pode significar “conciliar” ou “pacificar”. Quando somos fiéis a Deus, ele acalma a tempestade e, ainda que tudo esteja aparentemente mal, Cristo coloca uma paz em nosso coração. Assim se sentiu Paulo quando, expressando sua total fidelidade ao chamado de Deus em sua vida, disse: “Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (Atos 21.13). Isso é fidelidade. Observe como é diferente da ideia de fidelidade que tem sido pregada nos dias atuais, uma fidelidade que se formos fiéis receberemos casas, carros e bens materiais. A fidelidade de Paulo nunca poderia estar associada ao recebimento de bens materiais, pois ele não estaria mais aqui para deles usufruir.

A palavra hebraica para fidelidade é “emunah”, termo que está diretamente relacionado à ideia de firmeza e constância. Um dos termos relacionados é “‘aman”, que significa “pilar” ou “sustentação”, porque nossa fidelidade com Deus é o que nos sustenta e o que nos torna sustentados por ele. Da mesma forma, aquele que é fiel a Deus também é um pilar de sustentação na vida das pessoas que com ele se relacionam.

Outro termo derivado é “‘amon”, que significa “arquiteto”, porque aquele possui o fruto da fidelidade se torna um arquiteto e construtor do Reino de Deus na terra, como lemos em 1 Pedro 2.3: “Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo”. Aqueles que são fieis a Cristo estão construindo a Nova Jerusalém na Terra.

Uma palavra também relacionada é “yamiyn”, que significa “a destra” ou “o lado direito”. Isso porque aquele que pratica a fidelidade optou por dobrar à direta, para o lado em que Cristo está assentado, como lemos nos seguintes versículos: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis” (Atos 2.33); “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé a destra de Deus” (Atos 7.56). Dobrar à direita exige fazer uma curva na rota de nossas vidas, e seguir trilhando esta estrada até chegarmos ao destino, que é a comunhão plena com Deus.

Uma palavra muito conhecida que também se relaciona com ‘emunah é o termo hebraico “’amen”. A pessoa que é fiel a Deus diz “amém” para tudo aquilo que o Senhor ordena. Quem é fiel não fica apresentando a Deus seus sonhos e pedindo a ele que os realize, mas pergunta para Deus quais são os sonhos do Senhor para sua vida. E quando Jesus revela a missão para a vida de seus servos, aqueles que são fieis dizem “amém”, assim como os heróis da fé que entregaram suas vidas em fidelidade a Deus (Hebreus 11).

Temos também a palavra “’omnah”, que significa “tutela”. Assim vemos que aquele que é fiel está sob a tutela o Senhor, de modo que é um discípulo fiel, pois aprende com o mestre e realiza as obras que aprendeu de seu Senhor (Mateus 11.29). Hoje aprendemos com a televisão, nos inspiramos nas grandes estrelas e celebridades. Dessa maneira, nunca poderemos ser verdadeiros discípulos, pois ser fiel é ser um imitador, não das celebridades, mas de Cristo (Efésios 5.1). Aquele que é fiel mostra, com sua própria vida, que é um aluno de Cristo.

A palavra relacionada “’amanah” significa “aliança”. Quem é fiel a Deus expressa em sua vida que está firmemente aliançado com Cristo, que faz jus ao pacto feito por Jesus com a humanidade, quando foi moído pelas nossas transgressões e por meio de cujas pisaduras fomos sarados (Isaías 53).

Fidelidade é estar firme em Deus, em obediência irrestrita. A fidelidade é a única maneira que um cristão pode vencer a morte e estar eternamente com Deus, pois se o discípulo não trilhar o caminho, que é Jesus, como chegará ao destino almejado? Busque o Fruto do Espírito e seja abençoado pelo manancial eterno que é a Palavra de Deus!


::Daniel Lopez

Jornalista e doutorando em Linguística na Universidade Federal Fluminense (UFF). É também professor universitário, tradutor e diretor do programa e ministério Desvendando o Original.

www.desvendandooriginal.blogspot.com / @Daniel_L_Lopez / @desvendandoorig / daniel4310lago@yahoo.com.br

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domingo, 21 de agosto de 2011

Desvendando os Frutos - Bondade



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Continuando nossa série de estudos sobre o Fruto do Espírito, passamos à análise do quinto fruto, a bondade. Em grego, a palavra para bondade é “agathosune”, que também pode ser traduzida como “virtude” ou “beneficência”. A origem desse termo grego é a palavra “agathos”, que significa “bom”. A expressão “agathos” aparece, por exemplo, em Mateus 7.17: “Assim, toda árvore boa (agathon) produz bons (kalous) frutos, porém a árvore má (saprós) produz frutos maus (ponerous)”. Neste versículo, observamos que, no texto grego, há duas palavras diferentes para “bom” e duas palavras diferentes para “mau”. A árvore que é boa (agathon), ou seja, possui uma essência boa, produz frutos bons (kalous), isso porque podem ser utilizados como alimento adequado. Uma árvore só pode ter uma essência boa (agathon) se passar por uma restauração por meio do novo nascimento. Somente após nascer novamente, o cristão poderá produzir frutos que serão utilizados para alimentar a fé daqueles que os recebem.

Por outro lado, uma árvore má (saprós), ou seja, que teve sua boa essência degenerada, será capaz de produzir unicamente frutos maus (ponerous), que serão utilizados não para alimentar, mas para prejudicar por meio de seus efeitos maléficos e sua influência perniciosa. É por esta razão que somente a pessoa que recebe e cultiva os frutos do Espírito pode ser usada na grande seara de Deus, e por esta razão receber a recompensa por seu trabalho.

Em hebraico, utiliza-se para “bondade”, entre outros, o termo “chesed”, como em Gênesis 21.23. O curioso é que esta palavra está relacionada a “chasad”, que significa “dobrar”, como alguém que dobra a cabeça em sinal de respeito a um semelhante. Assim vemos que este fruto se relaciona com a inclinação a ajudar o próximo, respeitando-o como alguém digno de ser bem tratado e auxiliado. Todavia, ao mesmo tempo, a palavra “chasad” também pode significar “reprovação”, como alguém que abaixa a cabeça em sinal de desagrado. Dessa forma, quando dizemos a verdade e reprovamos uma atitude incorreta, estamos expressando bondade para com a pessoa, pois assim ela poderá ser edificada. Hoje, a tendência de ser “politicamente correto” impede que a verdade seja dita e que a pessoa que está errada receba a benção de poder arrepender-se.

A palavra hebraica para bondade (chesed) também se relaciona com “chasiydah”, que significa “cegonha”, pois esta é uma ave abundante em carinho no cuidado com seus filhotes e que alimenta seus pais quando estes já estão idosos. É por esta razão que se contam histórias, de origem alemã e holandesa, de que são as cegonhas que trazem as crianças para os pais. O famoso professor de hebraico Drusius (1550-1616) conta que, durante um incêndio ocorrido na cidade holandesa de Delft, as cegonhas foram vistas voando de um lado para outro na tentativa de salvar seus filhotes. Muitas das aves, não conseguindo salvar sua cria, lançavam-se ao fogo e pereciam junto a elas. Da mesma maneira, o cristão que possui o fruto da bondade (chesed) também deve, como uma cegonha (chasiydah), cuidar de seus filhos espirituais assim como daqueles que os introduziram na fé.

A cegonha é também famosa como uma caçadora e devoradora de serpentes, motivo pelo qual levou Moisés a declará-la como animal impuro para alimentação. Assim também o crente que cultiva o fruto da bondade (chesed) também deve ser, como a cegonha (chasiydah), um devorador de serpentes, pois recebemos de Cristo poder para derrotá-las (Lucas 10.19).

O famoso naturalista romano Plínio conta que, em Tessália, as cegonhas gozavam de grande respeito, pois haviam libertado essa região grega das serpentes que lá habitavam. O interessante é que a cidade de Tessalônica (que significa “vitória dos tessálios”) fica na região da Tessália. Paulo pregou aos tessalonicenses a volta de Cristo com grande veemência. Convém, pois, que hoje, aqueles que possuem o dom da bondade (chesed), façam como as cegonhas (chasiydah) que libertaram os tessalonicenses da opressão das serpentes, anunciando a volta iminente de Cristo e o refúgio (chasah) que há em Jesus, onde podemos ser livres da grande tribulação que está para vir sobre o mundo, sendo, dessa maneira, poupados (chus) da ira divina.

Busque os dons e frutos do Espírito, mas saiba que com eles vem também uma grande responsabilidade, pois “a quem muito é dado, muito será cobrado” (Lucas 12.48).

::Daniel Lopez

Jornalista e doutorando em Linguística na Universidade Federal Fluminense (UFF). É também professor universitário, tradutor e diretor do programa e ministério Desvendando o Original.

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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Desvendando a Benignidade



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Em continuação aos nossos estudos sobre o Fruto do Espírito, analisaremos hoje a benignidade. Em Gálatas 5.22, o termo usado para “benignidade” é “chrestotes”, que em Romanos 2.4 é traduzido como “bondade”, mas também se relaciona com “excelência moral” e “gentileza”. A palavra “chrestotes” procede de “chrestos”, que pode ser traduzida como “suave” (Mateusm 11.30) ou “excelente” (Lucas 5.39). Jesus possuía todas essas características, e aqueles que estão verdadeiramente unidos a Cristo também devem ser acompanhados de tais frutos.

O interessante é que o termo grego para benignidade (chrestotes) se relaciona com a palavra “chraomai”, que significa “tratar” (Atos 37.3), “usar” (Atos 27.17) “aproveitar” (1 Coríntios 7.21) ou “servir” (1 Coríntios 9.15). Assim vemos que a benignidade é um dom que se expressa na relação do homem com seu próximo, de modo que estamos sempre preparados para tratar as demais pessoas com educação e respeito, sendo usados e aproveitados pelo Senhor no ato de servir. Essa palavra grega (chraomai) também traz a ideia de “fornecer aquilo que é necessário”. E o que é mais necessário para o homem do que a Palavra de Deus? Dessa maneira, vemos que o verdadeiro fruto da benignidade se expressa principalmente no ato de ministrar o Evangelho àqueles que não conhecem a Deus, porque sabemos que a “criação anseia ardentemente pela revelação dos filhos de Deus” (Romanos 8.19). Assim, vemos que a maior expressão de bondade que podemos manifestar a alguém é pregar a Palavra de Deus, que funciona como um rio que jorra para a vida eterna (João 4.14), de modo que todos que deles beberem e nele permanecerem, viverão eternamente com Cristo.

A palavra grega “chrestotes” (benignidade) também se vincula ao termo “cheir” que significa “mão” (Mateus 3.12) e traz a ideia de “instrumento”. Ou seja, a pessoa que expressa o fruto da benignidade é usada por Deus como um instrumento para abençoar aqueles que carecem da revelação do Evangelho. Além disso, o homem benigno também é um canal (cheo) através do qual flui a Palavra de Deus, e com ela vem uma tempestade (cheimon) que prova aquele que recebe a Cristo, para que aprenda a estar edificado sobre a Rocha (Mateus 7.25). Muitas vezes, a palavra do homem benigno (chrestos) traz tempestade (cheimon) para a vida de quem a escuta. Todavia, esta tempestade irá tornar a pessoa mais forte, pois “a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Romanos 5.3-4). O homem benigno (chrestos) trará tempestade (cheimon) se ela for necessária para edificar a vida de alguém. Deus, que é benigno (chrestos), traz tempestade quando necessário, como lemos em Deuteronômio 8.3: “E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram, para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem”. Ser benigno é falar a verdade, ainda que seja uma palavra dura, pois somente assim alguém pode ser verdadeiramente curado e edificado.

Além disso, o homem benigno (chrestos) anuncia o abismo (chasma) que há entre o céu e o inferno, de modo que as pessoas possam buscar a Deus enquanto ainda há tempo (Isaías 55.6).

Em hebraico, um dos termos equivalentes a benignidade é “tob”, como em 2 Crônicas 10.7. Essa palavra hebraica possui uma gama de variações que nos ensinam profundas verdades espirituais sobre a benignidade. O homem benigno (tob) acumula (tabbur) para si galardões nos céus, pois há regozijo (te’eb) nas regiões celestiais pelas almas que ele alcança, de modo que se torna uma pessoa agradável a Deus (tab’el). Por isso, suas vestes são mergulhadas (taba’) no sangue de Cristo e tingidas (tabul) no vermelho carmesim do sangue do Cordeiro. Dessa maneira, o homem benigno consegue abater (tebach) o inimigo, pois agiu como um guardião (tabbach) da fé que está fundado (taba’) sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, que é Jesus Cristo (Efésios 2.20). Assim, o benigno possui em sua vida o selo (tabba‘ath) da eternidade e é celebrado (tabbath) por Cristo com um servo bom (tob) e fiel, por isso digno de entrar no descanso do Senhor (Mateus 25.23).

Busque o fruto da benignidade, pois ele fará com que você se torne, a cada dia, mais parecido com nosso Deus, portanto, mais próximo de Cristo.

::Daniel Lopez

Jornalista e doutorando em Linguística na Universidade Federal Fluminense (UFF). É também professor universitário, tradutor e diretor do programa e ministério Desvendando o Original.

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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Desvendando o original - Longanimidade



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Seguindo nosso estudo sobre os frutos do Espírito, abordaremos agora o quarto fruto: a longanimidade. Em grego, o termo para longanimidade é “makrothumia”, palavra relacionada à paciência e à temperança. Esse substantivo grego é comporto por duas palavras: “makros” e “thumos”. O primeiro termo, “makros”, traz a ideia de “longo” ou “distante”. A raiz de “makros” é “megas”, que pode significar “grande”, “maravilhoso” ou “elevado”. O segundo termo, “thumos”, significa “ira”, “furor”, “indignação” ou “cólera”. A raiz de “thumos” é “thuo”, que significa “respirar intensamente”, “sopro”, “fumaça”, e por implicação, “sacrificar”, “imolar” e “matar”. Dessa maneira, vemos que a palavra grega para “longanimidade” (makrothumia) se refere à pessoa que possui a virtude de ser “tardio em irar-se”, em demorar muito a chegar a irritar-se. Relaciona-se, portanto, a uma mansidão.

Todavia, se analisamos a raiz da palavra “makrothumia”, vemos que ela também pode significar “grande sacrifício”. Isso porque se requer um grande esforço para buscar essa longanimidade que só pode ser concedida pelo Espírito Santo. Além disso, foi através do grande sacrifício de Cristo que tivemos acesso a esse dom, que não é muito praticado ou buscado atualmente. Hoje, em uma época em que o individualismo impera na sociedade contemporânea, valoriza-se, por exemplo, o dom de variedade de línguas, porque traz notoriedade e destaque para aqueles que o manifestam. A longanimidade, porém, não é muito valorizada como critério para descobrirmos se alguém está em comunhão com Deus.

Talvez seja por isso que ocorram tantos escândalos, pois pessoas que manifestam dons estão sendo vistas como santas, enquanto, na verdade, são os frutos que devem usados para saber se alguém está conectado ou não com Cristo (João 15.1-4).

Em hebraico, o termo usado para longanimidade é “orek”, palavra que está relacionada à ideia de “ser longo”, “ser eterno”. Ou seja, a longanimidade é um dom que evidencia que a paciência da pessoa é longa, e isso é um sinal de quem está em verdadeira comunhão com o Eterno, de quem está caminhando em direção à vida eterna. Veja o que está escrito em Gênesis 6.3 conforma a Nova Tradução na Linguagem de Hoje: “Não deixarei que os seres humanos vivam para sempre, pois são mortais”. Ou seja, o homem natural, que não conhece a Deus nem os dons do Senhor, nunca poderá viver eternamente, pois não conhece o dom que coloca o homem em contato direto com o que é eterno: a longanimidade.

A raiz de “‘orek” é “‘arak”, que significa “alongar”. Quando vivemos uma verdadeira comunhão com Deus, Ele prolonga nossa existência, pois aquele que crê no Senhor, ainda que morra, viverá (João 11.25). Jesus foi preparar um lugar onde teremos uma longa e próspera comunhão com ele, pois onde Cristo estiver estaremos eternamente com Ele (João 14.1-3).

Outro termo relacionado a “’orek” é “rak”, que significa “tenro”, derivado de “rakak”, que significa “suavizar” ou “amolecer”, “fraco” (2 Samuel 3.39), “inexperiente” (1 Crônicas 29.1).

Paulo nos deixou bem claro como isso funciona quando disse: “Quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios 12.10). Aquele que recebe de Deus o dom da longanimidade (‘orek) descobre que a verdadeira vitória está em reconhecer que somos fracos (rakak) e inexperientes, pois assim abrimos margem para que Deus possa agir em nossas vidas e ensinar-nos o que é realmente bom, perfeito e agradável (Romanos 12.2).

Outra palavra derivada de “‘orek” é “‘arek”, significa “lento”. Foi por não conseguir ser lento em agir, mas decidir resolver rapidamente o problema de sua própria maneira, que Abraão engravidou Agar e Saul fez um sacrifício que não foi aceito por Deus (1 Samuel 13.13). A longanimidade (‘orek) não somente torna o homem lento (‘arek) em irar-se, mas também o torna capaz de ter fé suficiente para esperar a ação divina.

A palavra “‘arukah” também é derivada de “‘orek” e significa “reparar”, no sentido de “prolongar a vida”. A longanimidade é capaz de reparar maldições e restaurar vidas. Foi através da longanimidade (‘orek) de Cristo, que suportou com mansidão todas as aflições que lhe sobrevieram, que obtivemos a salvação e foi restaurada (‘arukah) a comunhão de Deus com o homem.

O termo “morek”, que significa “desmaiar”, também é derivado de “‘orek”. Qual é a relação entre longanimidade é “desmaiar”? O significado humano dessa relação está no fato de que a palavra hebraica para longanimidade (‘orek) se relaciona com o termo hebraico para o órgão reprodutor masculino (yarek), pois tem forma alongada. E o homem, quando é atingido em suas partes íntimas, corre o risco de desmaiar. Todavia, o significado espiritual é mais profundo. Quando o homem recebe de Deus o dom da longanimidade, ele aprende a buscar o Senhor e ter paciência e esperança suficientes para aguardar a resposta. Por isso, aquele que é longânimo acaba tendo um encontro com o Senhor, assim como os discípulos que esperaram diligentemente durante dez dias no cenáculo até que foram visitados por uma poderosa manifestação da glória divina. E quando o homem encontra com Deus, ele desfalece, pois não pode suportar o poder da presença divina. Percebam que João possuía essa esperança de ter um encontro tremendo com Deus, de modo que o conheceria não em sua forma esvaziada (Filipenses 2.6-7), mas assim como Ele é, na plenitude de sua glória. Veja como João manifesta sua longanimidade em 1 João 3.2-3:

“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro”. Em virtude de sua longanimidade, João estava esperando encontrar com Jesus e conhecê-lo como ele é de verdade. João perseverou tanto em sua longanimidade que ele acabou encontrando com o Senhor (Apocalipse 1.10-18). O que aconteceu com João quando preservou sua longanimidade (‘orek) e teve um encontro poderoso com o Senhor? Ele desmaiou (morek). Quem tiver longanimidade vai acabar encontrando com Deus assim como o Senhor é, e acabará desmaiando diante da glória do Eterno. Mas Deus o levantará pelas mãos e revelará mistérios que estão em oculto que não conhecemos (Mateus 6.6).

Por fim, temos a palavra “rechov”, também relacionada a “‘orek”, que significa “abrir” ou “rua”. Através da obra redentora de Cristo, que com longanimidade foi fiel até a morte, e morte de cruz, Jesus abriu um caminho (rechov) entre o céu e a terra. Ele mesmo é esse caminho (João 14.6), e quem recebe de Deus o dom da longanimidade (‘orek), acaba conhecendo essa rua (rechov) que segue em direção à eternidade.

Busque o dom da longanimidade, pois assim você compreenderá, através de Jesus Cristo, o que é ter uma vida longa e eterna na presença do Altíssimo.

::Daniel Lopez

Jornalista e doutorando em Linguística na Universidade Federal Fluminense (UFF). É também professor universitário, tradutor e diretor do programa e ministério Desvendando o Original.

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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Desvendando a Paz



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Continuando nosso estudo sobre o fruto do Espírito, analisaremos hoje o terceiro fruto: a paz. O interessante é que a ordem da lista de frutos colocada por Paulo em Gálatas 5.22 traz algumas coincidências. O primeiro fruto listado é o amor. Em hebraico, “amor” é ‘ahav, e o número um é ‘ahad. Ambas as palavras trazem a ideia de “estar unido”. O terceiro fruto é a paz. Em hebraico, “paz” é shalom, e “terceiro” é shalosh. Ambas as palavras trazem a ideia de “estar completo” (shalam), “ter autoridade” (shaliysh), “ter primazia” (shilshom). Parece que Paulo colocou os frutos de maneira que a ordem em que foram dispostos fizesse sentido junto ao significado.

A paz aparece em terceiro lugar, e o número três é usado na Bíblia como símbolo da perfeição divina. E este terceiro fruto, a paz, só pode ser obtido através de um relacionamento direto com Deus, como está escrito: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo” (João 14.27). Nunca se falou tanto sobre paz. Mas nunca o mundo esteve tão permeado por guerras e discórdia. Este é um sinal de que o mundo não conhece esta verdadeira paz. Nós, porém, temos acesso a ela através de Cristo, que nos permite compreender a paz que procede de Deus.

Em grego, a palavra usada para “paz” é “eirene”, que se deriva do verbo “eiro”, que significa “unir”. Assim como o amor, a paz também é um fruto que surge da direta comunhão com Deus. Jó, por exemplo, no final de sua história, liberta-se de sua angústia e experimenta a verdadeira paz quando diz: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5). É uma paz que procede do relacionamento com Deus.

Em hebraico, como vimos, o termo para “paz” é “shalom”, que se deriva de “shalam”, “estar a salvo”, “estar completo”, mas que também pode significar “pagamento” ou “recompensa” (shillum). Isso porque foi através do precioso sangue de Cristo que fomos comprados e resgatados da nossa vã maneira de viver (1 Pedro 1.18), de modo que receberemos a recompensa da promessa de entrar na celebração do Senhor (Mateus 25.21). Isso adiciona paz à vida daquele que tem essa esperança.

Outra palavra relacionada à shalom é “shelam”, que significa “restituir”. Aqueles que compreendem o poder do sacrifício de Cristo na cruz recebem de Deus uma paz que excede o atendimento humano, pois têm a consciência de que foram restituídos à comunhão com o Pai.

A pessoa que entende que o castigo que nos trouxe a paz (shalom) estava sobre Cristo (Isaías 53.5) passa a ter um coração agradecido e oferece sacrifícios pacíficos (shelem) em gratidão a Deus. Em resposta, Deus nos cobre com uma paz que é semelhante a uma veste (salma’) que cobre nossa vergonha e nossos pecados.

Davi compreendeu esse mistério. Ele sempre teve uma vida muito confusa, envolvido em guerras e intrigas, de maneira que aquilo que mais buscava era a paz. Foi por esta razão que deu a seus filhos os nomes Shelomoh (Salomão, que significa “pacífico”) e ‘Abiyshalom (Absalão, que significa “meu pai é a Paz”). O tataravô de Davi, pai de Boaz, se chamava Salmon, termo também relacionado à shalom, e que significa “investidura” ou “vestimenta”. Davi percebeu que só estaria completo (shalam) quando estivesse completamente submetido à vontade de Deus, dependendo do Senhor para receber a verdadeira paz (shalom) que ele tanto buscava. Quando ele recebeu uma investidura (salmon) como rei ungido, Deus o cobriu com uma veste (salma’) espiritual e o fez entender que a maior recompensa (shalmon) que um homem pode receber por seu trabalho não é a riqueza, nem mulheres, nem fama, mas a verdadeira paz que procede de Deus por meio de Jesus Cristo, o “Sar Shalom”, ou seja, o Príncipe da paz, como lemos em Isaías 9.6.

O curioso é que a expressão hebraica “sar shalom” pode ser traduzida como “ele cantou: está tudo bem”, porque “shiyr” é “cantar” e “shalom” também pode significar “estar bem”, como em Gênesis 29.6 e 1 Reis 5.22. Portanto, quando experimentamos a verdadeira paz (shalom) é como se o Príncipe da Paz (Sar Shalom) estivesse cantando em nossa alma: “está tudo bem!”

Creia nessa palavra. Jesus é o Príncipe da Paz, o único cujo verdadeiro amor nos faz superar a força do caos e experimentar a verdadeira paz. Que Deus derrame sobre sua vida a verdadeira paz, em Nome de Jesus!

::Daniel Lopez

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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Desvendando a Alegria



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Continuando nossos estudos sobre os Frutos do Espírito, temos hoje como foco de análise o segundo fruto, a alegria. Em grego, o termo usado para “alegria” é “chara”, que significa “deleite”, “felicidade”. Esta palavra se deriva de “chairo”, que significa “regozijo”. O interessante é que a palavra grega “chairo” nos lembra o nome da capital do Egito, Cairo, que em árabe é al-Kahira, que significa “o forte”. Isso traz à memória a ideia de que a alegria do Senhor é o que nos torna fortes (Neemias 8.10). Alegria e força estão diretamente relacionados. O inimigo ataca nossa força quando consegue tirar de nós nossa alegria. Existe uma batalha no reino espiritual para destruir nossa alegria. A alegria é um campo de batalha. Um dado curioso é que o nome original da cidade do Cairo era, em egípcio, Khere-ohe, que significa “campo de batalha”, em referência à batalha ocorrida entre Hórus e Set neste local. De forma semelhante, a alegria é um campo de batalha, em que o Espírito Santo e as forças das trevas lutam por nossa alma.

O versículo de Neemias 8.10, lido em hebraico, nos oferece mais esclarecimentos sobre a importância da alegria na vida do cristão. Nele, a palavra hebraica para alegria é “chedvah”, que vem de “chadah” e traz a ideia de “união”, pois se relaciona com “‘achad”, que significa “unificar”. Ou seja, a alegria é um campo de batalha espiritual, pois o cristão, quando está unido a Deus, exulta de alegria, ainda que em meio à tribulação. Se o inimigo conseguir tirar a alegria do cristão, ele quebra sua unidade com o Senhor. Ter alegria (chadah) é estar unido (‘achad) a Deus.

O homem que está verdadeiramente em união (‘achad) com Deus possui alegria (chadah) porque tem a força de uma espada afiada (chadad). Em hebraico, os termos “união” (‘achad) e “afiado” (chadad) são semelhantes devido à ideia de que os dois lados da lâmina de uma espada se unem para formar uma ponta afiada. Dessa maneira, vemos que o cristão que se une a Deus é afiado como uma espada e forte na batalha, pois a alegria do Senhor é uma de suas armas de guerra.

Outra curiosidade é que, em hebraico, as palavras “alegria” (chadah), “união” (‘achad) e “enigma” (chiydah) possuem a mesma origem. Isso ocorre porque o enigma se inicia com o narrador se distanciando de seu interlocutor no momento em que propõe a charada. Todavia, a charada termina quando a solução do enigma é anunciada, o que reúne a ambos. Isso nos lembra o costume de Cristo de falar por meio de parábolas, atitude que irritou a muitos, mas trouxe força e esclarecimentos para aqueles que buscaram compreendê-las. Muitas vezes Deus nos deixa passar por tribulações que geram em nós dúvida e desesperança. Nesses momentos, não entendemos o que está havendo, não compreendemos porque aquilo está acontecendo conosco. É como uma charada ou enigma. O inimigo usa essa ocasião para tentar enfraquecer-nos e tirar a força de nossa alegria. Todavia, o Senhor, ao derramar sobre nós seu Espírito Santo e ensinar-nos o significado de tudo o que está acontecendo, faz com que experimentemos uma reunião poderosa com Deus, momento em que exultamos de alegria por ter desvendado o enigma, por descobrir o que estava realmente acontecendo.

Paulo, por exemplo, experimentou essa angústia quando da ocasião do espinho que afligia sua carne (2 Coríntios 12.7). A curiosidade surge quando percebemos que uma das palavras hebraicas para espinho (chedeq) também tem a mesma origem que os termos “alegria” (chadah), “união” (‘achad), “afiado” (chadad) e “enigma” (chiydah). Isso porque o espinho nos leva a uma condição de dúvida, coloca diante de nós um enigma. Todavia, quando compreendemos o motivo pelo qual o Senhor nos permitiu que experimentássemos aquele espinho, recebemos uma alegria no Senhor e nossa união com Deus se torna mais sólida.

Outra palavra hebraica diretamente relacionada com a ideia de alegria é “chadar”, que significa “cercar”. Aqueles que estão verdadeiramente unidos ao Pai, e por isso experimentam a alegria do Senhor, estão cercados (chadar) pela proteção do Anjo do Senhor (Salmo 34.7).

Outra variação dessa mesma palavra, “cheder”, significa “quarto”, pois é um cômodo cercado (chadar) de paredes. Assim vemos que o quarto (cheder) é um local onde o crente pode buscar proteção, ao ser cercado (chadar) pela presença divina e receber de Deus uma unção poderosa de alegria (chadah). A passagem de Mateus 6.6 é categórica sobre esse tema: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”.

O cristão que deseja obter de Deus a verdadeira alegria (chadah) deve buscar uma união (‘achad) com Deus de modo que torne afiada (chadad) sua comunhão com o Pai, mesmo que através de um espinho (chedeq). Entrar no quarto (chedar) e buscar ser cercado (chadar) da unção e proteção de Deus fará com que o Senhor nos coloque em seu esconderijo (kachad) e revele mistérios que estão em oculto, desfazendo enigmas (chiydah) de nossa vida, trazendo um renovo (chadash) especial (qadash) que nos fará entender o que é a verdadeira alegria (chadah).

Dedico este artigo à querida Evelyn Lorraine Flood, aluna, amiga e irmã em Cristo que tem guardado sua alegria mesmo em meio a um enigma: uma luta contra o câncer. Peço aos queridos leitores que coloquem a Evelyn em suas orações.

A alegria do Senhor é nossa força!

::Daniel Lopez

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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Desvendando o Amor



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Em seguimento ao nosso último estudo, que teve como foco o fruto do Espírito, analisamos agora o mais importante dos frutos: o amor. Ao debruçarmos sobre os textos originais, grego e hebraico, percebemos que este fruto guarda uma tremenda força espiritual.

Em grego, amor é “ágape”, termo que também pode significar “afeição”, “benevolência” ou “caridade”. O interessante é que o termo “ágape” deriva-se de “airo”, que significa “levantar”, “suspender” ou “sustentar”. Em Mateus 4.6, essa palavra é usada da seguinte maneira: “Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão (arousin) nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”. Assim vemos que o amor está relacionado ao sustento. Deus nos ama porque nos sustenta em nossas vidas, provendo tudo o que é necessário para nossa sobrevivência. O próprio Espírito Santo nos sustenta, pois intercede por nós (Romanos 8.26). Da mesma forma, não podemos dizer que amamos nosso irmão se não o sustentamos em sua fraqueza. O próprio Cristo nos deu esse alerta. Aquele que não sustenta seu irmão em sua fome, sede, desabrigo, nudez, enfermidade ou cadeia terá a infelicidade de escutar de Cristo: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41). Compreender o amor é condição fundamental para se conhecer a Deus e dele obter a vida eterna, pois quem não ama (ou seja, quem não sustenta o seu próximo e é sustentado por Deus) não conhece a Deus, porque Deus é amor (1 João 4.8).

É também esse tipo de amor verdadeiro que nos leva a tomarmos a nossa própria cruz, entregando nossas vidas em benefício do próximo. Todos os cristãos são convidados, pelo próprio Cristo, a negarem-se a si mesmos e tomarem a própria cruz (Mateus 16.24). Inclusive, o verbo usado em Mateus 27.32 quando diz que Simão, o cireneu, foi obrigado a “carregar” a cruz é “are”, flexão de “airo”. Todavia, somente poderemos ser tirados (airo) da escravidão da morte e do pecado se conhecermos e praticarmos o verdadeiro amor (agape), que é sustentar (airo) o próximo, ou seja, dar a vida pelos nossos amigos (João 15.13).

O termo “airo” também pode trazer a ideia de “lançar” ou “remover”, como em Mateus 21.21: Jesus, porém, lhes respondeu: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não somente fareis o que foi feito à figueira, mas até mesmo, se a este monte disserdes: Ergue-te e lança-te (artheti) no mar, tal sucederá”. O verdadeiro amor lança fora todo medo, todo obstáculo e todo empecilho (1 João 4.18), pois foi através do amor pela humanidade (João 3.16) que Cristo foi capaz de destruir as obras do diabo (1 João 3.8).

O termo “airo” também pode significar “zarpar”, ou seja, “levantar a âncora”, como em Atos 27.13: “Soprando brandamente o vento sul, e pensando eles ter alcançado o que desejavam, levantaram (arantes) âncora e foram costeando mais de perto a ilha de Creta”. Da mesma forma, quando nascemos de novo em Deus e temos contato com seu verdadeiro amor (1 João 4.7), iniciamos uma viagem, zarpando da terra do pecado em direção à Nova Jerusalém. Nesta viagem, quem conduz o barco é o Espírito Santo, como está escrito: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (João 3.8). Aquele que é nascido do Espírito entende o que é o amor, e inicia uma jornada com Cristo para trazer a este mundo o Reino de Deus, cujo fundamento é o amor.

O curioso é que se em grego amor é “ágape”, temos em hebraico o termo “agab”, que significa “amar”, no sentido de “respirar por” ou “desejar”, “estar inflamado”. Assim, vemos que, em hebraico, este amor significa ansiar ardentemente por fazer a vontade de Deus, assim como Paulo que, mesmo diante do perigo de morte anunciado pelo profeta Ágabo (veja que curiosa a semelhança com ‘agab), não recuou, mas disse: “Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (Atos 21.13). Paulo estava pronto para entregar a vida em favor da causa do Evangelho e em resposta a seu compromisso com Cristo, expresso em 1 Coríntios 9.16: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!” Paulo, que era nascido de Deus, conhecia o verdadeiro amor. Por isso, abriu mão de seus sonhos para fazer a vontade de Deus e entregar sua vida pela humanidade.

Em hebraico, porém, a palavra que é mais usada para se referir ao amor é “‘ahav”. O curioso é que ‘ahav está diretamente relacionada com “‘ohad”, que significa “estar unido”. Aquele que realmente está unido a Cristo faz as obras que ele fez, que foram todas motivadas por um impressionante amor pela humanidade. Assim vemos que o amor não é um sentimento, mas uma ação. O termo “yahav” (que significa “dar”), outra variação de ‘ahav, nos mostra como o amor é um ato de doação. Foi por isso que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).

Além disso, o termo derivado “yehav” significa “porção” ou “fardo”. Assim, entendemos o motivo pelo qual, em hebraico, os termos “amor”, “fardo”, “jugo”, “dar” e “sofrimento” estão todos relacionados.

Amar é tomar sobre si um fardo que era destinado ao próximo, é dar a vida pelos amigos. Amar é, em suma, conhecer a Deus, estar unido a Ele e fazer Sua vontade.

::Daniel Lopez

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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Desvendando o Original - Os Frutos



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Vivemos, definitivamente, em uma época perigosa. O inimigo tem levado muitas pessoas à falsa ideia de que é através dos dons espirituais que identificamos se alguém está em comunhão com Deus. A Palavra de Deus, porém, nos afirma que é pelos frutos (Mateus 7.20) que conhecemos a pessoa que está verdadeiramente conectada à videira verdadeira que é Cristo (João 15.1-8).

Em grego, o termo traduzido por “fruto” é “karpos”, que significa “aquilo que é retirado”, pois se deriva do verbo “harpazo”, que pode ser traduzido como “arrebatar”, como em Atos 8.39: “Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou (herpasen) a Filipe, não o vendo mais o eunuco”. O mesmo termo é usado por Paulo em sua famosa passagem de 2 Coríntios 12.2: “Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado (harpagenta) até ao terceiro céu”. A mesma expressão aparece em 1 Tessalonicenses 4.17: “Depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados (harpagêsometha) juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor”. Em Apocalipse 12.5, temos a mesma palavra: “Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado (herpasthe) para Deus até ao seu trono”. Dessa maneira, vemos que os frutos são elementos que acompanham a vida daqueles que serão levados para junto de Cristo quando for retirado aquilo que impede o mistério da iniquidade de operar com força total (2 Tessalonicenses 2.7-8). Estes que serão levados para junto de Deus, como frutos apanhados em uma colheita, serão livres da grande provação que está para vir sobre o mundo (Apocalipse 3.10).

O termo grego para “fruto” (karpos) também é derivado de “hellomai” que significa “preferir” ou “escolher”, como em 2 Tessalonicenses 2.13: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu (heilato) desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”. Temos o grande privilégio de termos sido escolhidos por Deus, uma escolha para que pudéssemos fazer aqui na terra as mesmas obras que Cristo realizou quando fez um tabernáculo entre nós. Somos chamados não para vivermos uma vida relaxada e tranquila, mas fomos escolhidos para trabalhar na grande seara do Senhor, na qual faltam trabalhadores (Mateus 9.37).

O termo grego “karpos” (fruto) também se relaciona a “airo”, que significa “levantar” ou “tomar”, como em Mateus 11.29: “Tomai (arate) sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma”. Aquele que toma sobre si o jugo de Cristo e segue seus passos será também tomado por Cristo e levado aos ares para celebrar com Ele as Bodas do Cordeiro.

Em hebraico, o termo geralmente traduzido por “fruto” é “periy”. Essa palavra também pode significar “recompensa”. O cristão somente pode dar fruto se trabalhar na vinha do Senhor, como na parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20.1-16). Independente da hora em que for contratado, ele receberá a recompensa por seu trabalho, que é o fruto de seu labor. Trabalhar na vinha de Cristo e Dele receber sua recompensa é, verdadeiramente, estar em comunhão com Cristo.

O termo hebraico para fruto (periy) também está diretamente ligado às ideias de “quebrar” (pur) e “separar” (paraz). Isso porque uma pessoa somente pode dar fruto se quebrar (pur) todos os tipos de concepções que possui e deixar que Cristo mostre a ela o que é bom, perfeito e agradável (Romanos 12.2). Agindo assim, o verdadeiro cristão se separa (paraz) do mal e é separado por Deus para uma soberana vocação que há em Cristo Jesus (Filipenses 3.14).

Um dos ancestrais de Cristo possuía um nome que vem dessa mesma raiz. Seu nome era Perez (Gênesis 38.27-30). Quando estava para nascer, achou caminho (paratsta) e, passando à frente de seu irmão gêmeo, saiu do ventre de sua mãe em primeiro lugar, brotando como um fruto (periy) maduro. Por isso foi chamado Perez (parets). Ele, como um fruto que brota, adquiriu o direito à primogenitura e à herança que lhe cabia. Da mesma forma, o fruto é aquilo que brota e acha caminho para sobressair na vida do cristão que verdadeiramente é um trabalhador na vinha de Cristo. Estes que assim procedem e geram frutos são os escolhidos, pois muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos (Mateus 22.14).

Outra ocasião em que esse termo aparece é quando Daniel desvendou o recado que a mão misteriosa havia escrito na parede de Belsazar. O profeta Daniel interpreta o termo “parsim” (pharsiyn) da seguinte maneira: “Dividido (periysath) foi o teu reino e dado aos medos e aos persas (pharas)” (Daniel 5.28). Aqui vemos que o termo hebraico para fruto (periy) também se relaciona com as palavras “dividido” (periysath) e “Pérsia” (pharas). Isso nos leva a pensar sobre os dois tipos de fruto que existem: o fruto do Espírito, que nos torna separados para Deus, e o fruto da carne, que separa aquele que os produz para o julgamento. Na ocasião da passagem de Daniel, o reino da Babilônia havia plantado tanta destruição e perversidade, a ponto de utilizar os utensílios sagrados do templo de Jerusalém em uma festa profana e pagã (Daniel 5.1-5). Por esta razão, tendo produzido frutos (periy) da carne, Deus separou (peras) o reino da Babilônia para o julgamento (parets), de modo que este reino foi dividido (periysath) e dado aos persas (pharas).

Outra palavra relacionada com “periy” (fruto) é “purah”, que significa “prensa do vinho” ou “lagar”. Isso nos leva a concluir que é somente quando o cristão é prensado e esmagado (pur) pelas circunstâncias da vida e pelos ataques do inimigo que ele se torna um lagar (purah) de onde brota o puro fruto da vide. Somente quando o cristão passa a ver o fruto (periy) em sua vida é que ele consegue se separar (paraz) do mal, esmagar (pur) a força do pecado e produzir um vinho puro como o de um lagar (purah) administrado pelo verdadeiro lavrador, que é o Pai (João 15.1).

Não se engane: é pelos frutos, e não pelos dons, que seremos conhecidos por Cristo. Busque os frutos e o próprio Cristo o limpará para que você possa produzir ainda mais frutos para o engrandecimento do Reino de Deus.

::Daniel Lopez

Jornalista e doutorando em Linguística na Universidade Federal Fluminense (UFF). É também professor universitário, tradutor e diretor do programa e ministério Desvendando o Original.

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Colaborador do portal Lagoinha.com

domingo, 10 de abril de 2011

Desvendando o original - Oséias

Desvendando o Original – O Desafio de Oséias

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“Palavra do SENHOR, que foi dirigida a Oséias, filho de Beeri, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel” (Oséias 1.1).

Neste versículo, encontramos muitas coisas interessantes e surpreendentes. O curioso é que o termo hebraico para “palavra” (davar) está diretamente relacionado com “deber”, que significa “praga”, assim como também se relaciona com “dabar”, que em Salmos 41.8 é traduzido como “doença”. Portanto, ao mesmo tempo em que o Senhor está anunciando uma “palavra” (ou uma ordem) a Oséias, Deus também tem como propósito aqui denunciar a doença (dabar) do pecado, que se espalhou como uma praga (deber) por entre o povo de Deus.

O termo hebraico para “SENHOR” é “Yehovah”, “Aquele-que-Existe”, pois está relacionado com “hayah”, que significa “existir” ou “respirar”. A raiz é “hahh”, termo que expressa um sinal de espanto, como quando tomamos fôlego diante de uma cena espantosa. Essa palavra aparece em Ezequiel 30.2: “Filho do homem, profetiza e dize: Assim diz o SENHOR Deus: Gemei: Ah! (“hahh”) Aquele dia!”. Assim, podemos traduzir o nome de Deus em hebraico, “Yehovah”, como “Aquele-que-Existe”, “aquele que respira”, “aquele que tem o fôlego de vida” ou “aquele diante do qual suspiramos em espanto”. Dessa maneira, o versículo de Oséias 1.1 pode ser lido da seguinte maneira: “Maldição anunciada por Aquele-que-Existe”. Isso porque a Palavra de Deus julga o homem e denuncia o pecado (João 12.48), enquanto o espírito convence o homem de seu pecado (João 16.7 e 8). Assim, quem se humilha, ora, busca a Deus e se converte de seus maus caminhos tem de Deus a maldição repreendida e sua terra sarada (2 Crônicas 7.14).

O pronome relativo “que” em hebraico (‘asher) é muito curioso, e procede de uma raiz (shar) que possui inúmeras derivações. Literalmente, esta palavra hebraica pode significar “Aser” (um dos doze filhos de Jacó) ou “Assíria” (uma das nações que rivalizavam com Israel). Em hebraico, o nome “Aser” (‘asher) significa “feliz”, através da idéia de “retidão” e “sucesso”, e foi porque deu felicidade a sua mãe Leia que recebeu este nome, conforme Gênesis 30.13. Ou seja, Deus está dirigindo sua palavra a Oséias, o profeta que é “feliz” (‘asher) por causa de sua retidão perante o Senhor, por não ter sido contaminado pela praga (deber) que trouxe a doença (dabar) do pecado. Assim, podemos ler Oséias 1.1 da seguinte forma: “Maldição anunciada por Aquele-que-Existe. Felicidade dirigida a Oséias”. Ainda que a ordem dada a Oséias fosse muito dura (casar-se com uma meretriz), o profeta é feliz pois tem o privilégio de receber diretamente de Deus uma convocação soberana (Filipenses 3.14).

O curioso é que o termo hebraico ‘asher também pode significar a Assíria, como em 1 Crônicas 5.6. Isso é muito interessante, pois Oséias concluiu seu ministério profético cinco anos antes da capital do Reino do Norte, Samaria, ser invadida pela Assíria, o que aconteceu em 722 a.C. Assim, podemos traduzir o início de Oséias 1.1 como “Praga que Yehovah trouxe através da Assíria”. Veja como o texto, analisado a partir do original, anuncia verdades proféticas fortíssimas.

Em hebraico, a expressão “dirigida” significa, na verdade, “que tornou a existir”, de modo que podemos traduzir o versículo da seguinte maneira: “Maldição que Aquele-que-Existe trouxe através da Assíria, que se tornou a existir para Oséias”. Ou seja, a maldição que estava para vir sobre o povo, Deus a lançou sobre Oséias, de modo que o povo pudesse, diante do sofrimento do inocente profeta, converter-se de seus maus caminhos. Oséias tomou sobre si, portanto, um jugo semelhante ao de Cristo, quando lemos que Ele “tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si... Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele” (Isaías 53.4-5). Quem creu na pregação e no sacrifício de Cristo teve seus pecados perdoados e recebeu a salvação. Assim também com Oséias, pois todo aquele que cresse em sua pregação seria liberto da maldição que estava para cair sobre o povo. Quem não creu, porém, levou sobre si o julgamento, pois rejeitou o sacrifício intercessório do profeta, assim como está escrito: “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Marcos 16.16).

A expressão “dirigida a Oséias” é, em hebraico, “hâyâh 'el-hoshêa”, ou seja, a preposição “a” é, em hebraico, a mesma expressão para “Deus” (‘el). Assim, podemos traduzir o versículo da seguinte maneira: “Maldição que Aquele-que-Existe trouxe através da Assíria, tornou-se Deus Oséias”. Como está, a tradução fica sem sentido. Mas se traduzimos o significado do nome “Oséias” (salvação) o texto ganha uma força espiritual poderosa: “Maldição que Aquele-que-Existe trouxe através da Assíria, tornou-se Deus salvação”. Ou seja, quando o Senhor anuncia que o povo de Deus, devido a seu pecado, está agindo como uma esposa adúltera, Ele está tentando convencer o povo do erro de suas atitudes e de que se continuassem assim colheriam o que plantaram: maldição, morte e destruição, que viria através da invasão assíria. Ao mesmo tempo, diante do anúncio a desgraça iminente, o Senhor anuncia que Ele é a única salvação, que somente em Deus eles poderão ser livres da grande tribulação que estava para vir sobre a terra. Essa palavra é profética, pois o Senhor continua nos convocando ao arrependimento, de modo que possamos ser salvos do grande e terrível dia do Senhor (Malaquias 4.5).

A seguir, o livro nos traz uma sequência de nomes, cada um com profundo significado espiritual. Beeri significa “minha fonte”; Uzias, “Yahovah é minha força” ou “força de Yehovah”; Jotão, “Yehovah é perfeito”; Acaz - “ele possuiu”; Ezequias, “fortalecido por Yehovah” ou “Yehovah o tornou forte”; Reis de Judá, “reis louvados”; Jeroboão, “o povo guerreará”; Joás, “Queimado pelo Senhor” ou “dado pelo Senhor”; Rei de Israel, “Rei de O Senhor prevalecerá”. Dessa maneira, se traduzirmos os nomes, teremos o seguinte texto:

“Maldição que Aquele-que-Existe trouxe através da Assíria. Tornou-se Deus salvação. Em meio à minha fonte nos dias, Aquele-que-Existe é minha força, Aquele-que-Existe é perfeito. Ele conquistou, fortalecido por Aquele-que-existe. Reine, aclamado! Nos dias o povo guerreará filho queimado por Aquele-que-Existe, Deus prevalecerá”.

Se adaptarmos o texto, teremos a seguinte forma final:

“Maldição que Aquele-que-Existe trouxe através da Assíria. Tornou-se Deus salvação. Em meio à minha fonte nos dias, Aquele-que-Existe é minha força, Aquele-que-Existe é perfeito. Ele conquistou, fortalecido por Aquele-que-existe, um reino aclamado. Naqueles dias, o povo guerreará como um filho queimado por Aquele-que-Existe. Deus prevalecerá!”.

Não é por acaso que o nome Oséias (hoshêa`) era o nome original de Josué (yehoshua`), que é também o nome de Jesus. Oséias (hoshêa`) abriu caminho para que pudéssemos compreender Jesus (yehoshua`). Através de Oséias, Deus anuncia uma palavra de amor, arrependimento e misericórdia mesmo em meio a todo o caos que estava prestes a vir sobre a terra de Israel. É em meio à adversidade e ao desespero que percebemos que Deus é a nossa salvação (Deuteronômio 8.3). Se bebermos da fonte prometida por Cristo à mulher samaritana (João 4.14), receberemos força de Deus, e veremos que Seus planos são perfeitos, ainda que a realidade esteja aparentemente caótica. Com a força do Senhor, teremos a verdadeira alegria, não de bênçãos materiais, mas de conquistarmos o Reino de Deus, tendo nosso nome escrito no Livro da Vida (Lucas 10.20). Se guerrearmos com firmeza em Cristo, queimados pelo fogo do Espírito, Deus prevalecerá em nossas batalhas e conquistaremos a verdadeira vitória, que é a vida eterna junto a Deus.

Que essa palavra possa penetrar em seu coração e conceder-lhe força para prevalecer com Deus sobre as astutas ciladas do maligno, em Nome de Jesus!

Daniel Lopez

Jornalista e doutorando em Linguística na Universidade Federal Fluminense (UFF). É também professor universitário, tradutor e diretor do programa e ministério Desvendando o Original.

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