1- A escatologia é uma corrente de pensamento que existe desde os primórdios e que é especial na cultura e pensamento judaicos.
2- Ela se relaciona a uma visão particular do mundo, e uma específica relação com o tempo.
3- Nas sociedades antigas, o tempo era geralmente visto geralmente como circular. Os judeus, porém, devido ao messianismo, inauguram uma visão linear do tempo.
4- A palavra hebraica para tempo nos mostra essa curiosa dicotomia entre uma visão de tempo circular e uma visão de tempo linear.
5- O Antigo Testamento entende o tempo como tendo uma natureza cíclica. Isto se reflete na palavra hebraica שנה (shaná), que significa “ano”, mas que também pode significar “repetição”.
6- Cada ano, na cosmovisão judaica, representa um ciclo completo de determinados eventos de natureza espiritual estabelecidos por Deus, que se repetem anualmente.
7- Todavia, ao mesmo tempo, cada ano também é, em si, único. Isto também fica revelado na própria palavra שנה (shaná), que além de significar “repetição”, está relacionada ao verbo “shonê”, que significa “mudança”.
8- Embora o padrão de tempo seja repetido, a cada ano novos mistérios da realidade espiritual são revelados, e que determinam a natureza dos acontecimentos que se sucederão naquele ano.
9- É por esta visão do tempo enquanto mudança que os judeus são considerados o primeiro povo que incorporou uma visão linear do tempo, que aponta para um momento futuro em que se daria a consumação das profecias messiânicas.
10- Esta contradição repetição/mudança está, portanto, também presente na promessa do Messias, o Rei Ungido que confirmaria o cetro de Judá, a quem todos os povos deveriam obedecer.
11- Ao mesmo tempo em que eventos anteriores à manifestação do Messias já haviam anunciado sua vinda (o quase-sacrifício de Isaque; o Siló profetizado por Jacó; José tirado do poço e da prisão para reinar; o sacrifício de Nabote em favor de sua vinha, etc), ele teve um cumprimento, que, de forma definitiva, determinou uma mudança eterna, pois, desde então, não há mais derramamento de sangue para remissão de pecados, pois Cristo “entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” - Hebreus 9:12. Este é o Siló profetizado por Jacó:
12- “O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos”. Gênesis 49:10
13- A palavra para cetro é o hebraico (sebet) שבט, que significa “ramo”, “tronco”, o que nos remete à profecia feita por Isaías sobre o Messias:
14- “Então brotará um rebento do toco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará” - Isaías 11:1
15- Este ramo ou tronco, que é Cristo, tem inúmeras finalidades: punir, lutar, reger e bengala. Este tronco rompeu o círculo do tempo, e, como um átomo que, carregado, extrapola para uma camada superior, nos fez romper a barreira do espaço-tempo.
16- Siló (literalmente, “o enviado”) vem da palavra hebraica shalah, que pode significar tanto “segurança”, “prosperidade”, “felicidade”, como, através da palavra shalal, significar “extrair”, “tirar de”, “arrebatar”.
17- Cristo, portanto, é o Deus que saiu da eternidade (olam) e entrou no tempo (êth) para nos levar para a eternidade.
18- Assim também, a primeira vinda de Cristo representa uma prefiguração de sua segunda vinda, quando seremos realmente levados, arrebatados (shalal), em um momento que precederá seu reino eterno, como a profecia de Jacó concernente a Siló.
19- Siló representa, portanto, a consumação dos tempos, o momento em que o tempo circular será quebrado, através de uma mudança que colocará fim ao próprio tempo, dando início à eternidade, que os judeus chamam de עלם הבה (‘olam ha ba, que significa “o mundo vindouro”).
20- Todavia, a palavra hebraica para “mundo” (‘olam), também, pode significar “eternidade”, como na expressão le’olam (para sempre, ou, literalmente, “para o mundo”).
21- Quando diz “para o mundo”, não se refere a este mundo, delimitado pelo tempo, mas sobre o mundo vindouro, sobre o qual não opera o poder do tempo, posto que é eterno.
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