sexta-feira, 2 de agosto de 2013

1 Samuel – Aula 17


1-    17.37 Leão (Hb. 'ariy). Relacionado a 'arah, "colher", "juntar", "reunir", através da ideia de "violência".
2-    Relacionado a rahah, "temor", "medo".
3-    O contato de Davi com o Leão o ensinou o que era o medo, como lidar com ele e como superá-lo.
4-    Davi estava acostumado a lidar com o medo. Ele aprendeu a confiar no Senhor.
5-    Saul, pelo contrário, foi vencido pelo medo.
6-    Carlos Drummond de Andrade:

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
(Antologia Poética – 12a edição - Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, ps. 108 e 109).
 
7-    Saul foi tomado pelo medo. E o medo o levou à loucura, como uma doença que tomou seu espírito, assim como no pesadelo de Raskolnikov (Dostoiévski, Crime e Castigo):

Parecia-lhe então ver o mundo assolado por um flagelo Terrível... Uns seres microscópicos... introduziam-se nos corpos... Os indivíduos infectados ficavam logo doidos furiosos. Todavia... nunca os homens se julgaram tão sábios, tão seguros da verdade... Nunca tinham tido mais confiança na infalibilidade dos seus juízos, na solidez das conclusões científicas e dos princípios morais. Aldeias, cidades, povos inteiros eram atacados pela doença e perdiam o juízo, não se compreendendo uns aos outros. Cada qual julgava saber, ele só, a verdade inteira... Ninguém se entendia sobre o bem e o mal, nem sabia quem se havia de condenar ou absolver. Matavam-se uns aos outros levados por uma raiva absurda... Ninguém sabia e todos andavam inquietos. Cada um propunha as suas ideias, as suas reformas e não havia acordo... Aqui e ali se reuniam vários grupos, combinavam uma ação comum, juravam não se separar - mas logo depois esqueciam-se da resolução tomada, começavam a acusar-se uns aos outros, a bater-se, a matar-se. Os incêndios e a fome completavam o triste quadro. Homens e coisas, tudo perecia. O flagelo estendia-se cada vez mais. No mundo só podiam salvar-se alguns homens puros, predestinados a refazer a humanidade, a renovar a vida e a purificar a terra; mas ninguém via esses homens; ninguém ouvia suas palavras e suas vozes.

8-    O filme Blow-up, do italiano Michelangelo Antonioni, também faz uma excelente reflexão sobre a loucura.
9-    O filme, de 1966, foi baseado num pequeno conto de Julio Cortázar, Las Babas del Diablo, publicado em 1959.
10-                     O filme conta a história do envolvimento acidental de um fotógrafo com um crime de morte.
11-                     No filme Cidade dos Sonhos, de David Lynch, por exemplo, há um trecho em que as personagens principais vão a um clube de música chamado Silêncio, e o apresentador diz “não há banda, mas, ainda assim, ouve-se a música”.
12-                     Na Utopia, de Thomas Morus, o nome do rio se chama “Anidro” (ou seja, “sem água”), assim como nas Vinte Mil Léguas Submarinas de Júlio Verne, o capitão do submarino se chamava Nemo, que em latim significa “ninguém”.
13-                     São exemplos do irreal que vêm à tona quando a insanidade toma posse da mente humana. O louco tem certeza de que tudo que pensa existe e é real, mas não passam de ilusões.
14-                     A mente de Saul de tornou um mar de ilusões, fantasias, loucura e violência.    
15-                     18.1 Acabando (Hb. kehallotho, de kalah). A raiz primitiva é kal (Lk), formada pela mão fechada que traz a ideia de “submeter-se” e o cajado que representa autoridade. O termo, portanto, está relacionado a um recipiente que contém objetos ou líquidos, à completude e à “domesticação” de animais.
16-                     O interessante é que o termo kalah (“acabar”) está relacionado a kilyah, que significa “rim” (Êxodo 29.13), órgão que, para a cultura hebraica antiga, representava o local das emoções.
17-                     Segundo um artigo publicado na Revista Americana de Nefrologia (ou seja, a área médica que estuda os rins), o rim sempre foi associado à consciência é à reflexão (History of Nephrology 2 p. 235 by International Association for the History of Nephrology Congress, Garabed Eknoyan, Spyros G. Marketos, Natale G. De Santo - 1997; Reprint of American Journal of Nephrology; v. 14, no. 4-6, 1994).
18-                         O Talmude (Berakhoth 61.a), livro que reúne comentários judaicos, um dos rins ajuda o homem, através de sensações por ele geradas, a identificar aquilo que é mau e o outro a identificar o que é bom.
19-                     Vejam que interessante o que dizem as seguintes passagens:

Cesse a malícia dos ímpios, mas estabelece tu o justo; pois sondas a mente (kilyah, ou seja, “rim”, como na KJV) e o coração, ó justo Deus (Salmos 7.9).

Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes (nephros) e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras (Apocalipse 2.23).

20-                     Ou seja, ao final da conversa de Saul com Davi, Jônatas, que acompanhou o diálogo, passou a ter uma elevada estima por Davi.
21-                     Jônatas era um excelente soldado, e super corajoso, pois havia até mesmo desafiado, sozinho, o exército dos filisteus (1 Sa 14:1-52).
22-                     O comentarista David Guzik explica que Jônatas ouviu Davi falar sobre seu coração, seu temor a Deus e sua fé no Eterno.
23-                     Naquele momento, quando Davi acabou (kalah) de falar, Jônatas viu que eles tinham um mesmo coração e percebeu, espiritualmente, que ele seria o próximo rei de Israel.
24-                     18.2 Não permitiu. A partir daquele dia Davi nunca mais seria apenas um pastor, agora ele era um soldado que cuida de seu país como um pastor que zela por suas ovelhas.
25-                     18.3 E fizeram aliança (Hb. vayyihroth beriyth). Literalmente, a expressão “fizeram” (karath) significa “cortaram”, e o termo aliança (beriyth) é muito semelhante a “sabão” (boriyth – Jeremias 2.22).
26-                     Ou seja, Davi e Jônatas “dividiram o sabão”, de modo que ambos iriam limpar de seus corações toda competição, inveja e ciúme, já que Jônatas era o próximo rei pelos olhos humanos, e Davi o próximo rei aos olhos de Deus.
27-                     Dois conceitos que caminham juntos: amor (‘ahavah) e aliança (beriyth). Um prenúncio da obra de Cristo na cruz.
28-                     18.4 E Despojou-se (Hb. vayyithpashéth). O verbo pashat é muito curioso. Pode ser traduzido como “improviso”, “golpe” (Juízes 9.44) ou “invadir” (1 Samuel 23.27).
29-                     O que Jônatas fez foi algo que aos homens pareceu como improviso, um golpe à tradição. Mas com tal atitude, Jônatas invadiu o sobrenatural e deu um golpe fatal na rebelião que o inimigo poderia lançar sobre sua vida. 
30-                     Relaciona-se a pash (“transgressão”), a pashach (“pedaços”), pashchur (“liberação”). Aos olhos humanos, Jônatas cometeu uma transgressão, quebrando seu futuro em pedaços. Mas, na verdade, liberou algo muito poderoso no mundo espiritual, pois deu um grande exemplo de humildade e temor a Deus, fazendo em pedaços seu ego em favor da vontade do Deus soberano.
31-                        18.4 Deu a Davi. Jônatas neste momento abriu mão de sua coroa e a entregou a Davi, que reconheceu ser não apenas o homem mais preparado para reinar, mas aquele que o Senhor havia escolhido.
32-                     18.4 Capa (Hb. meiyl). Procede de ma’al, “esconder”, “agir secretamente”, “trair”, “prevaricar”, “pecar”, “transgredir”, “rebeldia”. Ou seja, Jônatas abriu mão de tudo isso quando deu sua capa a Davi. Davi, pelo contrário, ao receber a capa, e junto consigo a grande responsabilidade que acompanha o ministério do rei, atraiu para si todos estes atos maliciosos por parte daqueles que com ele viveriam.
33-                     Capa (me’iyl) em hebraico também se relaciona a jugo (‘ol). Jônatas retirou de sobre si o jugo da rebeldia e passou a Davi o jugo de um reinado justo e santo.
34-                     18.4 Armadura (Hb. mad). Curiosamente, mad também pode ser traduzido como juízo (Juízes 5.10). Davi, ao receber a armadura, trouxe sobre si o poder de trazer juízo sobre os filisteus, mas também trouxe juízo sobre sua própria vida, pois a quem muito é dado, muito lhe será cobrado. No futuro, Davi pagaria muito caro por erros que cometeria.
35-                     Ele seria constantemente medido (Hb. madad) pelo parâmetro da santidade exigida por Deus a seus servos.
36-                      18.4 Espada (Hb. chereb). Instrumento de desolação. Relacionado a charab, “destruir”, “esgotar”, “secar”, “assolar”, “ruína”, “deserto”.
37-                     18.4 Arco (Hb. qesheth). Vem de qashah, que significa “denso”, “severo”, “cruel”, “teimoso”. Tudo aquilo que Saul se tornou e Jônatas recusou ser.
38-                     Também se relaciona a qosh, “armar uma cilada”, “armadilha”. Aquilo que Saul fez com Davi e Jônatas recusou a perpetrar.
39-                     18.4 Cinto (Hb. chagor). O cinto que fica em volta da cintura para guardar as armas. Relacionado a chagar, “espanto”, “medo”, como aquele que está cercado. Saul temia muito a Davi, com receio de perder seu trono.
40-                     Jônatas, porém, preferiu amá-lo, reconhecendo a autoridade divina em sua vida.
41-                     Davi não poderia receber a armadura de Saul, pois esta não se adequava a ele em tamanho e principalmente em espírito e propósito. Mas Davi poderia receber a armadura de Jônatas, pois era adequada em tamanho e em propósito.
42-                     Davi e Jônatas amavam mais a Deus do que ao trono de Israel.
43-                     18.5 Saía (Hb. vayyêtsê'). Também traz a ideia de “vir à tona”, “brotar”. Davi começou a brotar e a unção de Deus em sua vida passou a ser reconhecida por todo o povo.
44-                     Mas Davi, ao vir à tona (yâtsâ') também mostrou o excremento (tsô'âh) espiritual que havia na vida de Saul, a malignidade que governava seu coração e sua alma.   
45-                     18.5 Sobre tropas. Uma promoção de patente muito impressionante para um homem que beirava os 20 anos de idade.
46-                     18.5 Até dos próprios servos de Saul. Davi passou a ser respeitado e honrado até mesmo pelos soldados de Saul, não porque era um bajulador, mas porque vivia como um homem segundo do coração de Deus.  
47-                     18.6 Mulheres cantando. O comentarista David Guzik faz belas observações neste ponto. Isso era um teste, em que o inimigo queria derrubar Davi, mas no qual Deus pretendia edificá-lo. Davi nunca recebeu este tipo de louvor quando cuidava de suas ovelhas, nem delas nem de seu pai.
48-                     Davi estava encarando, pela primeira vez, o desafio do sucesso. Mas como Davi ficava tão feliz em cuidar de suas ovelhas mesmo sem qualquer tipo de elogio, ele soube lidar com a popularidade.
49-                     Davi aprendeu a viver para o Senhor, e não para o povo. 
50-                     18.8 Saul se indignou. O que mostra sua fraqueza e o medo, pois sabia que Deus já o havia rejeitado.
51-                     Saul deveria estar feliz, pois o povo deu-lhe mais elogios do que merecia, pois ficou sentado covardemente durante 40 dias com medo de Golias. Que grande humilhação para um rei.
52-                     18.10 O mesmo espírito maligno de 16.14 voltou a atormentar Saul.
53-                     Davi mostra sua humildade ao tocar harpa para Saul, mesmo já sendo general do exército.
54-                     Contraste: enquanto Davi tinha uma harpa em suas mãos, Saul segurava uma lança.     
55-                     18.11 Encravarei a Davi (Hb. 'akkeh bhedhâvidh). A expressão “a Davi” (bhedhâvidh) tem grafia muito semelhante a “na panela” (bhaddudh – 1 Samuel 2.14). Isso porque ambas as palavras se relacionam ao calor. Em Davi, havia o calor do amor e o calor da panela. Davi era como uma panela, cheia de amor por Deus e de zelo pela Palavra do Senhor.
56-                     18.11 Duas vezes. Davi se desviou não somente da lança física, mas da lança da ira, da revolta e da amargura.
57-                      18.12 Temia (Hb. vayyirâ', de yare’). Soa muito parecido com a expressão “discerniu” (vayyar' - Juízes 6.22). Saul, por meio de uma orientação maligna, discerniu que deveria matar Davi, assim, acreditava que impediria o cumprimento da Palavra de Deus: que Deus o havia rejeitado e já escolhera outro rei.  
58-                     18.13 O afastou... chefe (Hb. sur... sar). O curioso é que, em hebraico, o verbo “afastar” (sur) soa muito parecido com a palavra “chefe” ou “príncipe” (sar).
59-                     Saul pretendeu afastar (sur) Davi não para honrá-lo como chefe (sar), mas para prendê-lo (‘asar) em uma armadilha, deixando-o cativo (‘asiyr) nas mãos dos filisteus, para que ficasse preso em grilhões (‘esur) e se apartasse (yasur) de qualquer possibilidade de substituir Saul.  
60-                     Davi, porém, ao ser nomeado chefe (sar), mostrou que era o homem mais preparado para conduzir o governo (misrah) de Israel, sendo como uma serra (massor) que desbaratava o exército inimigo e era usado para corrigir (yasar) os erros e pecados do povo.
61-                     Saul nomeou Davi como chefe (sar) para destruí-lo, mas Davi cantou (shar) muitas vitórias.
62-                     18.14 Lograva bom êxito (Hb. maskiyl, “agia com sabedoria” - KJV). Também pode ser traduzido como “didático” (Salmos 32.1) ou “contemplativo”. Davi refletia sobre tudo o que fazia, e consultava a Deus antes de tomar decisões, o que nos ensina como lidar com a fama, a mentira e a conspiração.
63-                     18.15 Vendo (Hb. vayyar'). Soa parecido com “temia” (vayyirâ').
64-                     18.15 Tinha medo (Hb. vayyâghâr). O verbo gur pode ser traduzido como “morar”, “viajar” ou “medo”, como o temor daquele que está em uma terra estrangeira. Saul temia, pois já se sentia estrangeiro em sua própria terra, pois o Senhor já o havia rejeitado.
65-                     A estima de Jônatas X a inveja de Saul. Duas reações diante de um homem com grande talento e grande potencial.
66-                     18.16 Davi poderia ter usado sua popularidade como uma lança contra Saul, mas, como agia com uma sabedoria que vem do alto, permaneceu obediente.
67-                     O comentarista Dale Ralph Davis ressalta que o descendente de Davi também tinha facilidade de criar divisões entre pai e filho:

Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á (Mateus 10.35-39).

68-                     Jônatas teria facilmente entendido O que Jesus quis dizer.
69-                     19.1 Saul faz uma reunião top secret para matar Davi, mas a proteção divina o livrou de toda armadilha.
70-                     O capítulo 19 contém 4 episódio em que Deus concede o livramento a Davi.
71-                     19.8 Davi feriu (nakah) os filisteus e eles fugiram (nus).
72-                     19.10 Saul ataca (nakah) Davi novamente, e este é obrigado a fugir (nus) como se fosse um filisteu.

          


          


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